Eu Me Lembro
Eu Me Lembro, dirigido e roteirizado por Edgard Navarro, Bahia/Brasil,2005.
Por motivo de uma forte caganeira, não pude fazer perguntas ao diretor após a sessão, tais como: até que ponto o filme é ficção ou foi real, como por exemplo na cena em que seu alter ego fala para o pai que foi ele o responsável pela morte da mãe, e ainda que ele deveria ser proibido de ter família. Outra pergunta que gostaria de fazer era se o pai de Navarro falou de fato ao seu irmão mais velho que o tal deveria se jogar do elevador lacerda após engravidar sua namorada. Até que ponto estes fatos foram reais ou inventados para se ganhar um edital que, por muitos anos, não rolava na Bahia nos inícios dos anos 2000, como o próprio menciona após minha volta do sanitário. Outra pergunta que gostaria de fazer era se Navarro , após inúmeros conflitos familiares, se internara e tomara muitos anti-depressivos ao ponto de ficar um morto-vivo, como interpreta eficazmente seu último alter ego, ator. No cinema a invenção é melhor que a realidade: isso todo cinéfilo que se preza sabe, mas até que ponto a ficção asfixia as lembranças reais, eis mais uma pergunta que queria, mas não pude fazer a um dos grandes do cinema nacional. Bem, já pode-se ter uma ideia de que trata o filme, que tem como enredo uma família tradicional soteropolitana que vai dos anos 1940 até 1970. O protagonista é o filho do meio que vemos crescer com sua curiosidade, quase que infinita, para crescer rápido e ser livre, fato este que se sucede, porém muita água passa debaixo dessa ponte até o pirralho virar adulto, então para que isso flua organicamenete vemos três alter- egos do diretor em tela, e todos dão conta do recado. Em certa medida trata-se de um filme triste, mas alegre ao mesmo tempo, e o mais importante: vemos um filme cativante onde, quem tem coragem de viver , ou carma para carregar pesos que a maioria não conseguiria carregar, vive aprendendo na dor e no amor, e obrigatoriamente nesta ordem. O seu final, com a aventura dos psicodélicos, meio que explica toda a peregrinação do protagonista Guiga, desde que nasceu até onde se transformou todo aquele angustiado rancor pelo pai, evaporando como pó, após muitas lições que a vida lhe dera ao ponto de ficar ou não lúcido para viver ou até que medida de lucidez o próprio queria ter, e isto não necessariamente significa ter coragem para enfrentar a vida ou não, mas sim diria que enxergá-la de uma forma não tácita, imprevisível, até chegarmos ao ponto de ter a tranquilidade de colocar a palavra espiritual para fechar a crítica, que poderia ser a palavra carma do diretor, igualmente a quem se indentica com a mensagem do poderoso, sem querer ser, filme.
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