O zagueiro viril

Ele , diferentemente de todos, só fazia seus alongamentos soltando as pernas para trás, desse modo alongava-se também o bumbum. Tratava - se do capitão do time, e por isso, tinha o máximo respeito de todos. Além de capitão era o zagueiro das antigas tipo xerife que impunha respeito, e muitas vezes, até medo nos atacantes. Quando a bola vinha em sua direção,o nosso zagueiro sempre priorizava o domínio da bola ( pelas nádegas), se assim desse, óbvio. Na hora do escanteio, ele, através de muita voz grossa e firme, literalmente abraçava seus "rivais"; admirava um baba pegado, e isto nos dois sentidos da palavra. O primeiro diz respeito a um tipo de jogo rápido, e na maioria das vezes violento também. No caso do segundo sentido da palavra pegado, gostava mesmo de um baba pegado porque adorava um encostar-se de uma maneira sem querer querendo, em seus adversários, e quem vacilasse encostava-se com segundas intenções nos próprios companheiros de time. Como atuava em campo justamente no lado oposto do dele, em bez da zaga era centroavante banheirista, via mais nitidamente do que meus comparsas de time, enxergava aqueles tais quereres incubados do nosso capitão. Nosso protagonista teve uma infância daquelas que podemos chamar de altamente preconceituosa devido a falta de instruçãodos aeus pais, este extremamente machista. Nascer- se gay , e nao poder pensar em hipótese alguma em se assumir ou simplesmente falar para alguém que era, que jogava em outro time. E não contar a alguém, porque, primeiro, nao sabia-se que era homossexual, e se soubesse não aceitaria por morar em um bairro de classe média muito machista e com um pai, como já mencionamos, bem ignorante. Nosso beque central era o símbolo mais genuíno que podemos citar, de masculinidade, ao menos em vosso bairro nos anos 1990. Isto porque ele sabia cobrar mais vontade e resultados do time,e isto com muito sangue nos olhos,e ae necessário fosse saia na mão com quem discordaase dele , das suas ideias estratégicas em prol de melhor desempenho do time. Com o passar dos anos de adolescência comecei a perceber algumas frases do nosso zagueiro um tanto inusitadas, tais como : " E voce que diZ que fa e acontece, dá cu porra nenhuma". Quando o time acabou, fiquei sem vê-lo com frequência, mas eis que um dia o vi e de fato aconteceu o que imaginava em meu início de adolescência: ele tinha saido do armário, conseguiu sair. Torço para que esse amigo guerreiro fedde sempre consiga manter o aeu belo sorriso no rosto que sempre teve, apesar de tantas espadadas que a vida já lhe dera, e ainda dará, caso ele abaixe a cabeça, coisa essa que nunca foi do seu feitio.

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