Livros do Joca
Como jornalista baiano, penso que conclui uma importante jornada do meu oficio, que fora ler duas biografias de duas personas de peso , biografadas pelo diretor de redação do extinto Jornal da Bahia, dos anos 1960 a 1970, em pleno regime de ditadura militar, o João Carlos Teixeira Gomes, o Joca. Achei em um sebo da Pituba a biografia de ACM, e esta após lida levou-me a Glauber, esse vulcão. A anti- biografia de Antônio Carlos fora resultado de batalhas árduas entre os dois: um livrão com quase setecentas paginas que mostra a personalidade agressiva de um ACM ainda menino, oriundo de uma gangue agressiva do bairro do Campo da pólvora, em Salvador, onde o político já demostrava seu lado agressivo e o tempo só fora a comprovar tal personalidade, esta oposta do Joca: um homem das letras por vocação que sempre tentava encontrar o dialogo contra a violência e tirania; trocando em miúdos: batiam de frente pelo Jornal da Bahia ser o único veículo a ser contra os desmandos e alucinações de poder de ACM, e isto em todos os seus mandatos de prefeito de Salvador e governador da Bahia. O livro ainda nos mostra o poder de ACM nos governos nacionais ( o que por consequência dá um poder ou chicote ainda mais amplo no estado da Bahia ) da ditadura e após, com os governos: Sarney, Collor, Itamar e os dois mandatos de FHC, sempre com ACM como ministro ou alguma nomeação importante ao ponto de conseguir, com o apoio do Roberto Marinho, e comprar a sua emissora no estado Bahia, formado um grande conglomerado de imprensa na Bahia com a principal emissora de Tv ( da Tv Aratu vendida a rede Bahia ), assim como os jornal Correio da Bahia, ambos ainda vigentes na grade programática dos baianos, fazendo a lavagem cerebral necessária para manter-se no poder durante três décadas. E o Joca narra todos estes episódios de uma forma madura, combatendo como homem de coragem que fora, o chicote afiado e por inúmeras vezes perverso ( Juca Valente, noivo de uma das filhas do político que o diga, nos infernos ou onde quer que esteja ). Como mencionara , a biografia Glauber, Esse Vulcão, narrada também por Joca, veio-me lendo o Memórias da Trevas. saio do mais importante político que a Bahia já produzira, e parto para o mais importante cineasta que a Bahia produzira, sendo que neste caso trata-se do mais importante cineasta brasileiro de todos os tempos e explico com uma provocação: Já vira alguém querendo ser uma cópia de Glauber Rocha? Eu nunca, pelo fato de ser primeiramente muito perigoso copiar uma persona tão múltipla e facetada como Glauber. Já vi cineasta tentando copiar outros diretores , ou melhor copiar não seria a palavra adequada, mas sim acompanhar seu raciocínio cinematográfico . Com Glauber tal coisa é deveras difícil pelo fato do mesmo muitas se contrapor o que dizia, entrando-se em contradição. Nem mesmo seus filhos que enveredaram ao oficio cinematográfico tem certa distância dos feitos realizados pelo pai , feitos que mesclam politica com cinema, sociedade com sonhos idealistas, ou seja uma américa latina e Brasil realizados por Glauber de uma forma epifânica e de processos ditadoriais severos que ocorriam em todo as Américas, do norte e do sul. Arnaldo Jabor diz que Glauber morrera tão cedo por ter sido um " hetário", mistura de herói com otário. Eu não vejo assim; vejo Glauber consiste de sua história, que nasce em Vitória da Conquista, baseando-se na religião do Marxismo, onde esta permeia toda a sua obra, misturada com sua singular visão onírica de ver os acontecimentos da vida, adicionada a uma personalidade rebelde que o fez entrar para a história tanto como realizador cinematográfico, assim como pensador universal dos problemas da humanidade no período em que vivera. difícil resumir Glauber mesmo após ler uma biografia de quase setecentas páginas de um amigo de toda a vida, como o Joca fora. Acho que o adjetivamento de vulcão pode ter sido feliz, tanto por sua personalidade como cineasta, mas também como a alma de Glauber: esse Vulcão: o mais enorme da cinematografia brasileira, e um dos maiores da mundial também.
Comentários