Velha infância
Tudo começou
quando tinha um mês; mentira, tinha uns dois ou três anos de idade quando
comecei a querer ter o monopólio da minha mãe, deixando meu pai, obviamente
enfurecido. Tinha problema de intestino preso e só conseguia obrar quando mamãe
cantava pra mim, tarefa esta que demorava horas para a merda sair do meu
pequeno furico , geralmente pela noite na hora de dormir, ou meus pais fazerem
brincadeira. A fase de ódio e ciúme do meu pai era nítida até para uma criança
de três anos, só não saia fumaça das suas orelhas porque saia da boca e do
nariz, que tanto fumava até morrer de câncer de pulmão com 63 anos, eu com 33 (
fiquei no lucro até, ele perdeu o pai dele com 7 anos). Ainda criança, porém
mais velho, tinha incontinência urinária e fiz xixi na cama até meus dez, onze
anos. Li que fazer xixi na cama é sintoma de criança insegura, e de fato era,
apesar de enérgica. Anos passaram, fiz o que toda pessoa normal faz, ou seja,
acabei o segundo grau e fiz faculdade ( de administração ). Formado com o
canudo na mão nunca emplaquei como administrador; tive inclusive a chance de administrar
a agência de propaganda em que o meu pai era sócio: desastre total; acabei somente
ajudando o office-boy a pagar contas nos bancos. A faculdade definitivamente
foi errada, tinha tentado antes educação física e só não passei porque
encontrei os portões fechados no prédio das provas de segunda etapa da UFBA.
Morei em São Paulo por um ano trabalhando com meu pai e mais uma vez acabei
como office-boy pagando contas nos bancos paulistas. A experiência foi como luz
de alerta indicando que talvez o ramo burocrático empresarial não seja a minha
praia. Voltando a morar em Salvador passei a escrever críticas de filmes, sempre
fui rato de cinema. Fiquei muito tempo como crítico de cinema: é um ofício
perigoso porque você acha que é mais inteligente que o diretor do filme, e
divaga sobre o que ele teria que fazer e não fez. Também o fato de escrever me
fazia bem, todavia entendi, após mais de uma década na profissão, não
remunerada escreva-se de passagem, que escrever sobre o que um outro faz enfraquece
sua personalidade sem ao menos você perceber. Não que seja uma profissão
pequena, mas acho que “desaumenta “a criatividade, embora respeite todos os críticos
de cinema aos quais tive o prazer de conhecer, me parece mais do que um ofício,
mas sim uma missão a crítica de qualquer arte: profundo respeito por quem ainda
faz. Todavia a crítica foi a porta de entrada para a arte, não agora como mero
espectador, mas sim opinador, cobrindo os principais festivais de cinema do
país. Paralelamente aos festivais cursava letras, já que escrever é ponto essencial
para ser crítico. Fiquei, durante dez anos, concutemente em duas funções, ambas
iremuneráveis. Durante tal período, sendo estudante de Letras, apaixonei-me pela
literatura. Tenho a paixão, e não o hábito de ler todos os dias, senão o faço
fica parecendo que faltou algo pra fazer. Escrever é difícil, mas torna-se impossível
se não ler. A arte veio da crítica cinematográfica e da literatura, no meu
caso; e aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo ( 45 anos ), resolvi
trocar o curso de letras pelo de cinema pra ver no que vai dar. Ver no que vai
dar porque talvez pela maturidade, vejo que arte pode ser consumida não somente
em ser artista: a arte está em tudo, até no mais mercenário trabalho não
artístico. Durante minha existência apenas me interessei em ler literatura,
excluindo-se os livros técnicos que tive de ler na faculdade de administração.
Agora isto mudou: começo a ter prazer em ler artigos e livros relacionados a
economia, política, negócios em geral e uma porta desconhecida começa a se abrir.
Dinheiro nunca foi o resultado que queria alcançar: sempre tinha outras coisas
mais importantes a serem conquistadas como o intelecto e o conhecimento do ser
humano, por exemplo, até mesmo porque tive a graça de nunca o faltar ou a
ambição de querer mais que o necessário que julgava suficiente para entender os
principais dilemas da vida. O homem cresce quando se acresce, e talvez isto
ainda falte para que minha ambição se torne maior no sentido de precisar pensar
não apenas só em mim, mas na prole. Maturidade é o que dita o que escrevo, seco
e sem arrodeio de que é isto mesmo; só o tempo nos faz sábios e menos
orgulhosos e vaidosos. A vida só acaba quando se morre, enquanto estamos aqui
temos de evoluir.
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. Desejo sucesso e felicidade sempre, seja qual for a caminha que escolher!