A Barba
Quando , não habitualmente, faço a barba: dia sim, dia não, me sinto sem identidade: é como se minha barba fosse meu RG, e eu não tivesse que explicar quem eu sou em qualquer recinto que fosse, pois a barba estava lá pra dizer quem eu era e o quê queria. Agora, desbarbado, com carinha de neném, tenho de explicar minhas intenções e desintenções. Ela começa e crescer e fico pensando se farei a mesma traíragem que a fiz desde a última vez em que ela se encontrou grandíssima, e de uma hora pra outra, tentei aparar com a tesoura, e devido a buracos, acabei raspando a porra toda. No Brasil estamos no inverno, e não penso em cortá-la até pelo menos a chegada do verão. As veredas começam a dar as caras após uma gilete de dias. Antes de raspar minha barba, de quatro meses de cultivo, achava que não rasparia nunca, mas com um conselho de uma tia em somente apará-la , acabei dando fim nela. O problema é a chegada do verão, principalmente aqui em Salvador. Quando a barba começa e ficar grande, isso na base de um mês ( ao menos pra mim, e isso faria muito), dá uma enorme vontade em extrair o mal pela raiz. Aí fico pensando: Aqui no nordeste o cara que não têm barba é tido como “frango” ou não muito homem. Não quero passar por este constrangimento perante meus conterrâneos soteropolitanos , isto mesmo sabendo que é um tremendo atraso e babaquice alguém julgar outro alguém por ter ou não uma porra de uma barba. Quer saber: não sei se é para pirraçar ou por não concordar: mas quero ter a vontade de tirar minha barba todo santo dia; assim os meus conterrâneos ficam mais putos ainda comigo e vou embora de uma vez por todas dessa terra de merda que é Salvador da Bahia: a terra do axé e das belezuras pra quem vem só no carnaval, e inclusive deixa uma puta de uma energia ruim, como as de bostas do capitalismo, sabe? Enfim: quero deixar notório que a economia baiana se deve, e muito, ao carnaval, mas que por mim, que não lucro nada com este circo do carnaval, espero que vocês não venham, apesar da novela das nove global. Assim essa porra continua energizada o ano todo e ninguém mais fica nos prontos-atendimentos médicos após a folia Momesca.
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