Félicité
Félicité, dirigido e corroteirizado por Alain Gomis, França, Bélgica, Senegal, Alemanha, Líbano,
2017. Esta produção
foi a melhor que vi na Mostra SP; e não escrever o porquê, mas tenho certeza de
foi ela, definitivamente. Trata-se de um filme sensorial, onde adentramos no
universo da protagonista, que dá nome a obra. Felicité é uma mulher que vive da
música e cultura noturna do seu país e de suas origens. O filme tem takes longos,
de modo que isso ajuda a acompanhar e perceber cada sentimento dos personagens,
cada respirar deles, ou até cada não ação que eles deixam de fazer pensando em
consequências não tão boas. No inicio da trama temos a apresentação do conflito
maior da eximia e cativamente protagonista: seu filho acidenta-se de modo e fica
hospitalizado, seriamente. Félicité, prontamente, vai socorrer o filho sem pai,
no hospital e é roubada, ficando sem dinheiro para o tratamento do filho, alias
único, que beirava a faixa dos vinte. Começa então a jornada da Félicité em
arrumar grana para o tratamento do filho, este a esta altura já com uma perna
amputada e a cabeça na pior, sendo um vivo em estado vegetativo: pena de ver. A
protagonista tenta reviver seu filho de alguma forma, procurando dinheiro para
os medicamentos, porém a ajuda, nestes casos extremos, vem sempre do acaso, ou
seja, de um transeunte bêbado “consertador de ventoinhas de geladeiras”, que
curtia a voz e o som genuinamente africano e belo da Félicité, todas as noites.
O lindo de se acompanhar no filme é essa história desse casal que,
aparentemente, nada teria a ver, entretanto com um ser humano, o filho da
protagonista, naquele estado, faz com que esses opostos unam-se em prol do
salvamento daquele ser de vinte anos, e isso independentemente de quem fosse
afinal tinha alguém na merda e quem tem sensibilidade dá um jeito de ajudar,
pois o ajudando se autoajuda, também. Tanto o filme, como seu roteiro não
existem reviravoltas que passam deste cotidiano citado, mas esse tal “
cotidiano” é nos contado de forma tão digna, poética, verdadeira, intensa, e
acima de tudo real, que não tem como se apaixonar pelo filme, pelo simples fato
que se apaixonar pela obra é também, de todos os modos, reapaixonar-se pelo
homem; de que ainda vale sentir orgulho de nós mesmos , e principalmente de
nossos atos, pois no fim ,ou acima de tudo, são as nossas intenções que fazem a
diferença para uma humanidade melhor, e consequentemente um mundo também. Crer
em nós mesmos é necessário para mudar, caso contrário sempre mais guerras
virão. Não foi à toa que esse filmaço ganhou o Prêmio do Júri Oficial no Último Festival de Berlim.
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