Le Grand Soir
Le Grand Soir ( A Grande Noite), dirigido, estranhamente, pelos dois protagonistas: Benoît Delépine, Gustave Kervern,
França, 2012. Título este que não tem muito a ver com a obra, pois a grande
coisa dele é a mudança total: ao do dia e da noite; refiro-me a grande
transformação perante ao assolamento de um sistema que, escroto, pune e não
dá segundas chances de bandeira. Como personas principais temos dois meios
irmãos, que após metade da fita, sabemos que nem a mãe sabia quem era o pai de
qual, tamanha a bebera quando dera pros caras. A trama ideológica acontece em
uma cidadela de médio porte francesa, onde um irmão é punk convicto e têm
tatuado em sua testa a palavra Não. Ou seja: ele diz não a tudo e a todos do
sistema, vivendo na rua através da ajuda alheia, fator este que deixa , a certo
ponto do filme, bem angustiado. Do outro lado do filme temos o outro irmão que,
literalmente, pira, quando tem um bebê, e é demitido do trabalho, mostrando a
crise econômica que a Europa passara nos meados de 2010. Com o surto do irmão mais “consciente”, porém
com os mesmos genes, o punk o transforma em um cidadão de rua, assim como seu
cachorro, mas não necessariamente nesse sentido. O que ele queria era dar um
pouco de vestígio de nobreza ainda a seu meio irmão ensandecido com a situação político-econômica
da Europa. Um filme bem interessante e o grande vencedor do prêmio da crítica
especializada do festival de Cannes de 2012. A obra pergunta de tudo um pouco,
e mexe com tudo que, até então, pensamos que estávamos convictos e certíssimos;
e enfim nos joga a pergunta: será que estamos no caminho certo, ou ao caminho
dele? Essa pergunta fica no ar e o filme não dá a resposta, mas sugere para que,
cada qual perceba se estás, de fato, fazendo bem ou só sendo uma máquina
alienativa , e que um dia certamente pifará, por não permitir deixar-se usar a
sua massa cinzenta para deixar-se de ser uma máquina que trabalha muito e ganha
pouco, ou seja, o custo-benefício não vale, e isto acontece com a maioria, que
por não saber ou por não ter como lutar contra, acaba sendo escravizado por um
sistema oportuno e sugador , que é o que nos rege; então o ditado que diz que :
“ em terra de cego quem tem um olho é rei”, é mais que válido para nos
identificarmos e sabermos lutar contra o que é pré-estabelecido, sem critério
algum, e ainda assim enseba e comanda a maioria da massa. Existem filmes para
serem contemplados em suas entrelinhas, e Le Grand Soir nos permite esta
imersão interna sociocultural, e nos alerta que, com os “dois pés na porta”
resolvemos tudo, mas deixa-nos lúcidos que temos dois pés e que estes tais pés podem
chutar a porta a qualquer instante, basta saber disso para não bater com eles
dois e então driblar as dificuldades sociais que os nossos governantes criam
pra gente viver. Quer ser mais livre? Então assista a esse filme ou então fique
do jeito que está: afinal a escolha é sempre sua, mesmo você querendo colocar a
culpa em terceiros.
Comentários