Nada
Nada, de Gabriel Martins, MG, 2017.
Eis uma situação que a maioria, ou grande parte dos adolescentes,
passam quando terminam o terceiro colegial, e têm que decidir-se qual curso
fazer e consequentemente, e isso em tese, escolher o quer fazer
profissionalmente pelo resto dos seus dias. Esse é o pano de fundo para a nova
obra fílmica da renomada produtora mineira: Filmes de Plástico.
Mas vamos conhecer Bia: uma jovem negra que acaba de
completar a maioridade e vê-se pressionada, tanto pelo colégio como pelos pais
a escolher um curso “pra mó” de prestar no Enem. De cara já, nos primeiros
minutos do filme, quando Bia é indagada por uma pseudo diretora moderna de sua
escola particular, a que curso prestar, Bia responde de uma forma tão natural ,
que naquele instante temos certeza que ela dera a resposta certa aquela
diretora rabugenta e cheio de egos: “ Não que fazer nada”. A diretora, bem
interpretada já pela calejada atriz Karine Teles, replica: “ Como assim nada ,
Bia, você tá de brincadeira?”, “Tô não, quero fazer nada não, uai” responde
monosílabicamente Bia, interpretada pela
atriz de primeira viagem, porém já com um talento visível, Clara Lima.
A protagonista curtia Rap e sua mãe encorajava a filha a
prestar no Enem um curso de artes, mas Bia, relutante, continua a frisar seu
desejo: não fazer nada. O significado de não fazer nada não necessariamente
condiz com que a palavra remete, pois do nada, ou principalmente do nada é que
não damos espaço a alienação, e esta de todas as partes sempre nos limitando a
tudo, inclusive a pensar. Então quando a Bia diz que não quer fazer nada, na
verdade ela quer fazer tudo, ou ao menos bem mais do que aqueles que vão
prestar o Enem. Bia quer pensar por conta própria, e essa decisão somente os
corajosos loucos têm aos dezoito anos de idade ou em qualquer idade. Um filme
que tem uma pegada sociológica forte, e que peita de frente os valores que
seguimos, assim como ovelhas ao pastor, ou seja, totalmente às cegas.
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