Estado Itinerante
Estado Itinerante, de Ana Carolina com Lira Ribas,
Brasil, 2016.
Com um arpor poético que foge dos padrões vos apresento-lhes
a nossa obra fílmica dessa fria semana soteropolitana. A estória, ou o roteiro
do filme, cuida-se em apresentar-nos Júlia, essa personificada por muitas
mulheres brasileiras. Nela percebemos a olhos nus marcas roxas em seu corpo,
entretanto nada se comenta sobre o ocorrido, apenas deduz-se que Júlia sofre
agressões físicas e psicológicas do seu companheiro, embora este nunca apareça
em tela. Percorremos, ao lado de Júlia, a angústia de existir sem um emprego, e
pior: azar no jogo e no amor, também. Ainda assim aquela mulher, assim como
tantas outras brasileiras, não entrega-se as picuinhas da vida , e consegue um
emprego de cobradora de ônibus, profissão essa stressadíssima devido aos rushs
das capitais, esta no caso, Belo Horizonte. A perspicácia da diretora foi a de
chamar, excluindo-se a protagonista e outros papeis, mas de “deixar” que funcionários
deste ofício desce corpo a obra fílmica. As conversas que Júlia tem com suas
colegas de trabalho são de fato com todo teor do termo “conversas de botequim”,
e talvez por isso que o filme seja tão sensual, poética e bom de se ver.
Homens, salário, empresa, colegas, bolsa ou simplesmente um pedido de trago de
cigarro ou um pouco de batom emprestado permeia a historieta de uma mulher
vulgo “comum”, porém como já diria o poeta: “de perto ninguém é normal”. Então,
dessa forma, a cena catártica do filme em seu final, mexendo, inclusive, com
formatos de roteiros padronizados onde o ponto máximo de tensão está no meio do
filme. Todavia especificamente sobra esta obra, temos esse ponto máximo de
tensão, ou catarse, acontece após uma bebedeira e a Júlia ouve uma canção que a
faz surtar ao ponto de desmaiar de cansaço quando a música acaba. A cena é
forte, visceral, e mostra a Júlia, por pelos menos uma noite, ser um ser humano
feliz. No dia seguinte vemos Júlia e uma amiga de costas conversando ou
divagando após aquela catártica noite que a faz tomar decisões em sua vida para,
quem sabe, ser feliz todos os momentos dos dias, e não somente por uma noite.
Bela poesia exposta em lente do cinema mineiro.
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