Camino a La paz
Caminho a La Paz (Camino a La Paz), de
Francisco Varone ,Argentina, 2016 . A pergunta que não quer calar é: Os opostos
mesmo se atraem? Escrevo que sim. Entretanto o enredo do filme se permeia pela seguinte situação: um argentino ,de Buenos
Aires, doente com câncer na tireoide, precisa se deslocar até La Paz, capital
boliviana, a fim de dar o último tchau aos seus familiares. Todavia a viagem
requer cuidados específicos, como por exemplo, urinar de hora em hora na estrada, rezar de quatro e quatro horas por ser muçulmano, etc. Ou seja: coisas que um transporte coletivo não faria. Aí então surge o segundo
personagem da trama: um portenho taxista pobre e trambiqueiro que vê o
dinheiro, única e exclusivamente, como saída para todos os seus problemas, isto é,
um capitalista de carteirinha e já com alguns anos de prática percorrendo bem ilicitamente, escreva-se de passagem. O pulo do gato do roteiro, e conseqüentemente do filme, é o de juntar os dois personagens tão distintos; enquanto um que só pensa na ganancia de ganhar mais e mais na materialidade, o outro em contrapartida, já no
fim de vida, sabe que coisas materiais acabam ao pó de uma forma vexatória, assim como nossos corpos. Assim
o velho doente convence por uma boa quantia de mufunfa, ao taxista ganancioso que o leve a
La Paz, e isso respeitando a regra de urinar e rezar de hora em hora. Porém no caminho até
La Paz coisas e personagens surgem de tal maneira que modificam a maneira de pensar
e ver o mundo dos dois personagens centrais: O velho: o doente e já em final de vida, e o novo: o ganancioso que não sabia de nada da vida de importante. Filmes
argentinos tem como premissa fazer o espectador raciocinar ( não a toa os inúmeros
psicanalistas no país), e o que vemos é a mudança no pensar dos dois
personagens centrais, e isso que implica em vermos o mundo de uma maneira de quem
está morrendo e de quem está assistindo por isso, e certamente este último revendo
todos seus conceitos do que é se dar bem em uma vida capitalista de puro
estandarte. A narrativa do filme se
desenvolve nesse limite humano dos dois personagens: enquanto hum luta insanamente
pelo respirar da vida, o outro, entretanto desconhece tal desfortuno de modo
que vê a vida bem diferente do seu cliente, afinal a esta tem de ser vivida
como já dizia o poeta. O dilema do filme se baseia nessa insistente pergunta: A
vida tem de ser vivida ou tem de ser aprendida? Diria que os dois, pois vivendo
você também aprende, de modo que com um pouco de generosidade no coração você
ajuda e ainda é feliz, basta ouvir as batidas da seu coração e nada mais, pois a
vida é simples: são as pessoas que complicam, e este é o principal recado que a obra
fílmica deixa aos telespectadores: Ouvir as coisas mais importantes da vida, porque o resto é supérfluo.
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