Redemoinho
Redemoinho, dirigido por José Luiz Villamarim, Brasil, 2017. Em tempos tão difíceis politicamente com gestores públicos tão despreparados ( mas seriam melhores que os ladrões de todo o sempre?), o filme do Villamarim se torna muito necessário. Introduzi a política no início do texto porque o filme a abrange também, mas não só ela. A obra se torna tão necessária hoje em dia que o tema “política” é mais um entre inúmeros que o filme trata, afinal estamos destinados a viver sob a égide das constituições e sobre os plenos cotidianos de ir e voltar ao trabalho, respeitando as jurisdições as quais as empresas nos atribuem assim como “dar” certo montante ao INSS e a outros encargos sociais, ademais pagar impostos discrepantes e pulsantes em nossos alimentos poluídos para nos matarmos cada vez mais cedo com muitos alimentos transgênicos e impostos. Ou seja: morremos no bolso e no corpo comendo, mas se não comermos morreremos mesmo assim, então que metam agrotóxicos em nossos corpos , e que fiquemos calados, afinal quem se importa com o resultado de trinta anos posteriores já que a regra é resolver o pepino do “aqui e do agora”. Não temos tempo para pensarmos de como será nosso futuro já que nem do nosso presente estamos dando conta, então que a fatura chegue mais tarde já que a vida é assim, sem muitas escolhas, sem muitas opções. Ou seja: ou és "lenhado" pela frente ou por trás já que estamos em um jogo em que estamos predestinados a sermos "loosers" por não podermos estabelecer as regras do próprio. Indagações acerca ou sobre o que o filme causou a este critico à parte, vamos embrenhar estas linhas agora no filme mais propriamente escrito, mas não que estas indagações sejam supérfluas, pelo contrário, acho até serão mais úteis que todas estas linhas posteriores, mas como ofício da profissão não filosofarei mais que já o fiz e focarei-me na estória da trama, esta que por sinal fora adaptada de uma obra literária do Luiz Ruffato. Redemoinho conta a retomada de um mineiro de Gatagases que volta a cidade natal para passar natal com sua mãe. Após dez anos em São Paulo às lembranças voltam a tona, assim como os amigos. A narrativa explosiva é contada na véspera do natal com o encontro de dois amigos de infância que tem coisas a contar um ao outro e lembrar o que fizeram ou o que deixaram de fazer, causando consequências traumáticas em suas vidas. Protagonizado pelos dois atuais melhores atores de cinema do país, Irandhir Santos e Júlio Andrade, e ainda por cima com a presença de Cássia Kis e Dira Paes, os quais compram a ideia de estarem em um filme porreta, a narrativa flui de uma maneira tão peculiar que de fato quando os atores querem que o filme dê certo este não tem como dar errado e feliz do diretor que consegue essa proeza, afinal sabemos de como são estranhos e difíceis estes seres chamados por atores, então quando o diretor consegue vender a ideia para eles só resta comemorar, porque quem faz o filme são eles e não os diretores. Entretanto como mencionávamos a trama girava em torno do encontro de dois amigos de velhos tempos, que de certa forma, estavam vivendo suas vidas no automático por não terem muitas respostas as suas perguntas que tanto os empacavam e por isso não andavam muito pra frente nas vidas. Com o passar do filme as verdades são jogadas à tona e os cabrestos mineiros daqueles dois sacripantas , que é uma mistura de sacana com anta ( fruto inclusive da alma brasileira ), e as implicações das suas ações passadas são relembradas de modo que tal acontecimento causa um enorme furor e ardência na narrativa, que chega a um ponto em que as verdades são peitadas pelas mentiras, e vice versa. A trama se desenrola com alguns pontos ápices dramáticos, porém o roteiro mantém-se coerente com a história de um acerto de contas de amigos os ex-amigos, pois como mencionei no início do texto em um contexto político-social mundial tão conturbado como o de hoje, será que ainda temos o luxo de termos alguém em quem confiar? Fato é que mais uma vez reescrevo a afirmação que o filme se torna necessário por sua profundidade com leveza em abordar tantos temas importantes. Redemoinho nos faz acreditar que a arte pode de fato transpor barreiras e ainda afirmar que o cinema nacional passa por um bom momento com treze filmes nos festivais de Berlim e dez em Roterdã em 2017, por os mandatários do cinema nacional terem entendido, até que fim a ficha caiu, que um cinema autoral com ideias próprias e genuínas pode não ser a melhor das fotografias nem dos slogans, mas definitivamente é o caminho certo para a construção de um cinema nacional mais forte e competitivo, tanto no quesito de ideias de roteiro como na construção fílmica da obra. Ou seja: não temos mais pra onde correr: ou evoluímos com filmes que não nos “aborreçam” ou estamos fadados a ficarmos parados no tempo, coisa esta que acontece e estamos começando a tentar sair desse rumo, basta então que os órgãos competentes acreditarem e invistam em filmes originais para que de uma vez por todas saíamos de tal caixinha ordinária e ultrapassada de um cinema tupiniquim que só tem sexo e violência a mostrar. É necessário sair da zona de conforto, e por isso tem que pagar pra ver e apostar em novos formatos que mostre o Brasil de uma forma menos estigmatizada, e Redemoinho é um exemplo a ser seguido em matéria de originalidade, filmaço.
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