Música e Vida
Estava com meus botões pensando porque a música é a mais
apreciada das artes ou a mais popular. Primeiro que ela tem o dom de penetrar
em nossas mentes de forma quase que instantânea. Vi alguém falando ou li em algum
lugar que a música é a única arte que o homem cria e não pode controlá-la ;
isso talvez responda o porque da nossa conexão imediata com ela. Jorge Mautner
já dizia que Newton não inventou a teoria da relatividade com a tal maça caindo
da árvore em sua cabeça acordando-o. Na verdade Newton ficou o dia inteiro
trabalhando até desistir de descobrir a fórmula da teoria da relatividade.
Jantou e após foi ouvir Bethoven e Sebastian Bah. Dormiu e no sonho, isto é,
através do seu subconsciente ele descobre a fórmula da teoria da relatividade.
Há quem diga que se Newton não ouvisse Bethovem e Bah as respostas não viriam
no sonho. Ou seja: a música transpõe a nossa capacidade matemática: ela pega na
alma e quando isso acontece coisas incríveis sucedem-se também. Amamos a música
porque ela nos provoca e não temos a noção da sua resposta e por não termos o
poder de controlá-la, o que fazemos então: amamos, idolatramos aquilo que foi
criado por nós, porém ganhou asas e disse a nós que mais não nos pertencia, que
era maior que a gente e por isso seu lugar não era mais aqui conosco e sim para
nos orquestrar e nortear nesse caminho imenso e confuso que chamamos vida. Vida
esta que também é cheia de curvas e mistérios e por isso a música seja tão
fundamental em nossas vidas. Quando adolescente fazia algumas participações em
uma banda chamada Raízes Negras onde meus mais próximos amigos tocavam nela.
Mesmo sem tocar ia aos ensaios e shows da banda e quando dava arranha na caixa:
um instrumento com o ritmo mais ligeiro de todos que dava o tom aos repiques e
surdos da banda. Sinceramente era um desastre: a minha era ficar na frente inventando
coreografias para aquela época que imperava na Bahia os tambores da Timbalada e
do Olodum, nada de Axé Music. Sempre tive inveja de quem sabia tocar algum
instrumento, achava quem fazia isto um super capaz, de modo que meus dotes
físicos eram menores em comparação a dominar não o corpo, mas um instrumento.
Por nascer e crescer em Salvador meus amigos em sua maioria eram negros e
tinham um suingue que gostaria de ter. Lembro-me de uma época que de tanto ir a
ensaios de pagode com meus amigos e tentar dançar como eles queria ser negro
também e me perguntava por que todos tinham nascidos negros e eu não. Enfim, de
um modo ou de outro, como todo brasileiro, a música esteve presente em minha
vida e em minha família também. De músicos profissionais temos dois que ainda
hoje vivem da sua arte; um aqui e outro no Chile, estes dois que junto com o
Capenga formaram o lendário grupo Bendegó, oriundo de Monte Santo para o Brasil
em companhia de Caetano Veloso que, inclusive cantou um desses tios meus e ele
como um bom macho sertanejo ficou puto com Caetano, afinal sertanejo é
sertanejo e acima de tudo um forte que não permite esse tipo de frescuriçe de gênero.
De um pai paulistano de origem italiana e uma dançarina nordestina nascemos eu,
Tadeu e Olívia, não necessariamente nessa ordem. Admito que esses universos do
sul e do norte não foram muito saudáveis para mim: era como se fosse um norueguês
casasse com uma indiana, ao menos na minha cabeça. Mas nada melhor que o tempo
para perceber que quanto mais diferença melhor por mais que seja doido
compreender isso, mas pra que estamos aqui se não para tentar nos entender em nossas
diferenças? Lembro-me de uma coisa dita pelo meu primeiro chefe, um gerente de
recursos humanos, “ Diogo, a vida é simples as pessoas é que complicam”. Ele
estava certo, só esqueceu-se de salientar que por sermos humanos somos
complexos e misteriosos por natureza, assim como a música. Lição essa que aprendi
a duras penas e experiências: que o ser humano não pode ser um ser simples
porque em cada um da gente existimos inúmeros nós mesmos. Tratar as pessoas com
simplicidade é que faz toda a diferença, talvez isso que ele deveria ter dito a
mim no início da minha carreira, não que as pessoas são simples porque não o
são nem em um interiorzinho e nem em uma grande metrópole, mas pra que vale a
vida para descobrir que nem tudo o que te dizem é o certo ou verdade. O caminho
é o senhor para te guiar não os conselhos, afinal se conselho fosse bom não
seria grátis e sim pago como o almoço de cada dia.
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