A Oeste Do Fim Do Ano

A Oeste Do Fim Do Ano, de Paulo Nascimento, Argentina/Brasil, 2014. Estamos na Argentina em um velho posto de gasolina perdido na imensidão da antiga estrada transcontinental que é o refúgio do introspectivo Leon (César Troncoso). De poucas palavras, poucos gestos e nenhum amigo. Sua solidão só é apenas quebrada por um ou outro caminhoneiro eventual que passa por ali para abastecer. Ou pelas visitas sempre bem humoradas do sarcástico Silas (Nelson Diniz), um motociclista com ares de hippie aposentado. O tempo passa devagar nas margens da velha estrada. Até o dia em que a enigmática e inesperada chegada de Ana (Fernanda Moro) transforma radicalmente o cotidiano de Leon e Silas. Aos pés da imponente Cordilheira dos Andes, segredos que pareciam estar bem enterrados vêm à tona, reabrindo antigas feridas e mudando para sempre a vida dos protagonistas. Esta poderia ser uma sinopse perfeita, mas ou todavia também seria "imprecisiva". Fato é que Silas como a mulher que acabara de chegar ao local estavam paralisados devido a traumas do passado, caso contrário não estariam naquela situação limítrofe onde nada mais importava, principalmente as pessoas. A mulher se separou porque perdera seu filho por um vacilo maternal, e imaginamos a culpa que ela carrega por tal distração, isto é, em deixar afogar seu único filho de dois anos. O protagonista estava na Argentina, mas poderia estar no Marrocos que não faria nenhuma diferença: era um ser errante e sem rumo, assim como a mulher que chegou. Trocando em miúdos , ou por outro lado, o nosso protagonista era outro desgraçado que a vida o predestinou a sofrer por um motivo quase igual: a diferença é que seu filho ainda estava vivo, mas como não o via e não se relacionava com ele era a mesma coisa como estar morto. Ou seja: dois desafortunados da vida que se encontram pelos seus destinos errantes , ambos querendo se esconder do mundo, seria os seus destinos finais? Pra quem acredita nisso poderia até ser, mas os mais céticos poderiam cravar afirmando que seria a “desgraçatez” unida para entender o porquê a vida fizera isso com aquelas almas revoltosas , e com razão, escreva-se de passagem, pois carmas não podem ser não aceitos, é tipo uma missão que já vem desde o berço e a pessoa não tem pra onde correr porque jamais conseguirá mudar seu carma de vida. Entretanto o filme pode, sim, ser considerado um rodie movie embora não ande pela estrada, mas sim paralise-se nela. A fotografia de um lugar tão bonito e inóspito e os silêncios barulhentos dos personagens são os pontos fora da curva de uma obra fílmica que de primeira não nos mostra nada, mas que, com um olhar mais atencioso ou generoso vemos a fragilidade dos homens por justamente sermos seres sociais por excelência e por genética. E por mais que lutemos ou discordemos acerca disso cairemos na mesma discussão sobre a solidão ser boa ou ruim para nós, e o filme nos mostra que ser sozinho é impossível hoje em dia, até mesmo porque sempre tem alguém que consegue te encher o saco, e isso para o bem ou para o mau. Bela obra que nos permite pensar na vida e com uma estupenda fotografia que vale muito ser conferida.

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