Axé : Canto Do Povo De Um Lugar

Axé : Canto Do Povo De Um Lugar, dirigido e roteirizado por Chico Kertész, Brasil, 2017.  Apesar de ser soteropolitano nascido e criado aqui e ter orgulho disso, coloquei no bolso a minha empáfia de um cidadão underground da cena rocker soteropolitana e fui conferir a um filme que , hoje, nada tem a ver com a minha vida e relações, porém não sou estúpido e ignorante, pra não escrever hipócrita, em afirmar que não fui feliz em muitos carnavais cantarolando canções "olodunianas " que até os tempos vindouros reverberam minhas melhores lembranças carnavalescas. É importante também, e escrevo que até imprescindível, que o Brasil reconheça que em Salvador existe uma baita cena rocker de responsa que não deixa a dever a nenhuma outra cidade brasileira metropolitana, porém o foco aqui não é o rock baiano, mas sim o Axé Music: o ritmo que fez da Bahia ser reconhecida mundialmente bem mais que o Raul seixas ou a Pitty, e isso que o senhor Raul que me perdoe e não fique remexendo-se no túmulo com a constatação que o poder da batida de um tambor foi, e ainda é, bem mais forte que um solo de sua guitarra vivendo de forma alternativa. Posto isto, ou seja, colocando em seu devido pedestal de realização e reconhecimento o axé e o rock baiano vamos ao filme. Todos os grandes nomes do ritmo (Ivete, Daniela, Luis Caldas, etc) estão na obra do Chico, a sua primeira inclusive. A narrativa do documentário é fluida e os diálogos são agradáveis e producentes no sentido de dar as informações mais importantes no que era e o que se transformou o Axé Music: uma super máquina de entretenimento de fazer muita grana e criar, alias criar não, mas de magnetizar em forma de musas esculturais cantoras do ritmo que conquistou o Brasil nos anos 1990 e ainda hoje o ritmo Axé Music, com os seus trinta anos completados, continua batendo um bolão e comandando a massa brasileira, agora só que com a concorrência do sertanejo universitário. Ou seja: para quem torcia o nariz sobre músicas de poucas letras e muitas melodias rebolativas e que deixavam o povo esquecer-se dos problemas diários de inflação e corrupção em Terra Brasilis. O Axé Music conseguiu chegar aos seus trinta anos de existência e com muita elegância e também um poder de renovar surpreendente , escreva-se de passagem. Hoje em dia a grande questão do carnaval de Salvador está nos espaços do camarotes Vips da folia, sendo que cada vez existe menos espaço para aquele folião que não tem grana para pagar um desses camarotes ou blocos fechados. São os chamados foliões pipocas , que ficam cada vez com menos espaços para curtirem o carnaval. essa questão é bem desenvolvida no documentário do Chico, filho de um ex-prefeito da cidade e atualmente um radialista de prestigio em Salvador. A cada ano tenta-se bolar novas estratégias para que o título do carnaval de Salvador , ou seu slogan, ainda seja como : O carnaval para todos, mas o que vemos é que existe a cada ano que se passa um fortalecimento de um apartheid social onde quem tem grana curte o carnaval e quem não vai segurar a corda de um bloco de carnaval a troco de um misero retorno financeiro e um lanche com um sanduíche murcho e um suco quente no final da noite ou inicio da manhã, a depender do bloco que estiver sendo escravizado, assim como eram quando saíram da África para ajudarem a formar a nossa identidade brasileira. O documentário se torna interessante por nos fazer pensar acerca e sobre tudo isso: essas desigualdades que a cada ano tem um poder de se potencializar ainda mais, se é que isso é possível. Particularmente vejo o carnaval da Bahia daqui uns 15 anos como único e irrestrito somente para quem tem "bala na gulha" para poder pagar há algum camarote ou bloco vip de alguma cantora de pernas e voz grossa. O Chico, o diretor do documentário é um pouco mais otimista. Ele acha que o carnaval tende a ser devolvido ao povo como era antigamente. Pra mim é um caminho sem volta; vamos ver quem tem a razão daqui há uns quinze anos.

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