Atrás do Trio Elétrico Só Não Vai Quem Já Morreu.
Foi atrás de um trio elétrico e com muita cerveja tomada é que senti uma sensação de baianidade que jamais me esquecerei. Isso deve fazer uns cinco anos, alguns anos depois que disse não a São Paulo e voltei a Salvador. As dúvidas estavam reinando meus pensamentos; será que tinha tomado a decisão correta? Certa ou não estava de volta a Bahia e o carnaval me chamava. Estava na merda pensando em Sampa e meu pai consequentemente. Resolvi deixar as dúvidas de lado e aceitei o convite de um primo para ir para Ondina aos quarenta e cinco do segundo tempo. Adentramos pelo povão até próximo ao hospital espanhol, após o farol de Barra. Tínhamos lido no jornal que o trio sem cordas de Daniela Mercury era mais manso e a galera mais politizada, por isso não tinha tantas brigas e além de tudo era uma galera meio que “intelectual independente”. Ficamos tomando uma breja nas redondezas do farol e por via e vezes “bulindo” algum sorriso solto e gaiato de algumas que esperavam a atração, como nós. Quando a Daniela surge do trio e dá sua primeira gritada vemos os tamanhos dos olhos da dita cuja; esgoelavam-se pelo tamanho na face da cantora de tanto pó que cheirava antes de subir no trio para comandar-nos por mais de quatro horas até Ondina. A missão era esta, e estava lá eu e meu primo Lourenço para cumpri-la. O som começou e ficamos meio sem fé, já que o público estava com pouco mulheril, inclusive. Chegando pela ladeira do clube espanhol ( que não é mais clube) a turma começou a aparecer e aí estávamos no meio da muvuca. A direção para chegar em nossa missão estava no mais próximo ambulante que vendia “três piriguetes a cinco real”. O bairro de Ondina ainda tinha uns bons quilômetros dali. Não tinha de fato pra onde ir, era pegar a cerveja e continuar esperando o circuito acabar. Fato é que de pernada em pernada ou de cerveja atrás de mais outra,que a coisa começou a ficar ofuscante. Daniela vendo olhou-me e puxou o refrão: “ Olodum é sertanejo resistente!”, e os tambores vieram arrebentando tudo e todos saindo do chão. Daí entrei na onda; comecei a cantarolar as antigas canções do Olodum e me senti incrivelmente bem. Senti amavelmente abraçado novamente por minha cidade natal, as pazes estavam feitas, ao menos por aquela noite
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