Que horas ela volta ?

Ela não volta. Que horas ela volta? , de Anna Muylaerte, Brasil, 2015. Quando leio que um sacripanta, mistura de sacana com Anta, diz que o novo filme da Anna está a um passo de ter sido feito por Almodóvar, e a dois passos por parecer ter sido obra da lenda Ingrid Bergman, aí a paciência desse crítico se esgota. Não gostaria de entrar no mérito da escolha do filme para nos representar no Oscar 2016. No cinema nacional tenho clareza de algumas coisas, e uma delas é achar que todos os anos deveriam indicar algum filme pernambucano para concorrer aos principais festivais de cinema, inclusive o Oscar. Todavia este é um gosto particular deste crítico por achar interessante a proposta de cineastas como Lírio Ferreira, Marcelo Lordello, Cláudio Assis entre outros nomes em fazer um cinema apelidado por eles como “cinema de macho”, porém nunca de machistas. Por isso não entrarei no mérito da escolha do filme feita pelo ministério da cultura. O que farei é avaliar filmicamente a obra da competente Ana; Mas competente por quê? Porque ela foi cirúrgica e objetiva em fazer o filme para primeiramente concorrer ao premio industrial estadunidense, e em segundo plano ficaria se ele agradaria a gregos e troianos. De fato não agradou, ou melhor, não agradou há alguns como o critico da folha Ignácio Araújo, com a pretenciosidade inédita da diretora fugindo do seu próprio estilo fílmico para fazer da sua obra algo mais industrial, coisa que a Anna nunca tinha tentado assim de forma tão explícita. Com pretenciosidade ou sem ela temos um filme super linkado com as situações atuais do Brasil. Por exemplo, quando a estória nos dá uma situação de que a filha da empregada passa no vestibular de arquitetura da USP, a FAU, e o filho da patroa perde no exame, temos a nítida noção das politicas públicas implementadas nos últimos anos. Tudo é tocado e talvez tocante no filme: Cotas para pobres, heranças de tempos coloniais arreigados no inconsciente coletivo, a problemática do pagamento desta “dívida” são algumas perguntas que o filme tenta fazer, e com humor. Neste aspecto a diretora fui perspicaz em colocar tantos temas em cima da sua protagonista e da filha desta. Regina Cassé ganhou como melhor atriz pela atuação em Sundance, e com méritos. O filme ainda recebeu o premio do publico no festival de Berlim. Enfim não trata-se de nenhum filme ralé, tecnicamente ele é quase impecável, tem uma protagonista com um baita carisma, mas por abordar nossos problemas sociais de maneira que vemos serem descritas e contadas do mesmo jeito todas as noites no Jornal nacional, é aí que a obra fica obvia demais, por exemplo já sabíamos como seria o final da estória da empregada com sua filha. Não restam dúvidas que o filme nos representará bem no Oscar 2016, mas que eu preferia um filme pernambucano no lugar dele, disso também não tenho dúvidas.

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