O amor é estranho

Uma análise de 2015. O Amor é estranho, dirigido e roteirizado pelo virtuoso Ira Sachs , EUA, França, 2014; De imediato sou quase que obrigado e repensar em alguns conceitos para nem eu e nem vocês ficarem a mercê da chamada ou apelidada ” massa coletiva sem neurônios”. Partindo deste pressuposto sinto-me confortável em escrever que chega até ser surreal se quiséssemos fazer uma comparação de filmes que passam em festivais de cinema em contrapartida a doutros em circuitos comerciais vigentes. As obras fílmicas que passam somente em festivais de cinema; Parece-me que estas juntos com seus criadores poucos se lixam se sua obra será aceita ou não em passar nos cinemas para a grande massa assistir, e vou um pouco mais além nesta questão de distribuição: Tenho para mim que os filmes vistos em festivais de cinema nem se quer se dão o trabalho de esperar que estes venham para o circuito comercial, pois como estes ganham os principais editais cinéfilos dos seus países e regiões, tais seletos filmes se sustentam pela grana dos editais, pois suas obras têm, podemos afirmar uma forma mais comprometida com a sétima arte, forma esta bem diferente das obras audiovisuais que circulam nos complexos Multiplexs dos shoppings, onde o combo da pipoca custa o dobro do valor do ingresso da sessão. Quem sai perdendo e fica a ver navios é mais uma vez o povo que não consegue se desvencilhar dessas comédias melas cuecas, estas no caso do Brasil. Pergunto-me se realmente vale a pena insistir em estimular as pessoas a assistirem filmes nacionais como, por exemplo: Meu Passado me condena 2; A ligeira impressão deste crítico, com toda sinceridade possível e cabível nesta resenha, é que vale mais a pena estimular as pessoas a gastarem seus reais em cervejas por vezes quentes vendo a um jogo de futebol de série B do seu clube, que ver as comédias nacionais produzidas hoje em dia, pois ao menos, se as pessoas não assistirem a esses tipos de filmes estão por seguinte protegidas a expor suas íris a obras tão rasas, e pior, sem nenhum tipo de comprometimento político, filosófico ou social, fazendo da obra uma pura perca de tempo e processo de “ignorantização” da maioria da sociedade. Entretanto políticas de audiovisual à parte ( já que parece que é um trunfo ter pessoas ignorantes para melhor manipulá-las) quis fazer esta pequena introdução acerca das errôneas, para não escrever mal intencionadas e incompetentes, distribuições de obras fílmicas no Brasil , sob mando da alta cúpula da nossa desastrada Ancine – Agencia nacional de cinema, para discutir sobre um belo filme que assisti há pouco tempo atrás em um circuito comercial( este que foge a regra ), e percebi o quanto de diferença existe entre uma obra destinada a um festival de cinema custeado geralmente por uma multinacional estatal, leia-se Petrobrás, em comparação há um filme em circuito comercial dito como de “arte”. Não poderíamos esquecer do nosso enfadonho e incompetente ministério da cultura- MINC, que, este ano erra novamente na escolha do filme para nos representar na vaga no Oscar ano que vem; Tínhamos produzidos ao menos uma dezena de filmes melhores que poderiam nos representar mais dignamente no premio industrial estadunidense. Dito ou escrito isto agora podemos especificamente tratar da obra fílmica em questão: O amor é estranho, onde temos em seu elenco principal nomes como John Lithgow ( interpretando um aposentado e pintor) e Alfred Molina(dando vida a um músico e professor), fazendo os personagens principais da trama. O filme começa com o enredo de quando o casal resolve unir seus trapinhos oficialmente perante a um juiz, e consequentemente à lei. A união já era estável para mais de vinte anos, trocando em miúdos: A união civil fora um mero presente ou troca de gentilezas que ambos se permitiram fazer e se darem e presente, declarando-se ainda mais apaixonados e juntos um ao outro. Todavia fatos sociais atípicos se sucedem como cascata após a união formal de ambos. Um dos companheiros tinha um emprego estável de professor de musica em uma instituição católica. O musicista já lecionava na escola há mais de dezoito anos e seus superiores, no caso padres, sabiam de sua união com outro semelhante de mesmo sexo, todavia quando este volta da sua lua de mel fica sabendo da sua demissão. O padre, com aquele olhar piedoso nos seus olhos, explica-o que quando era somente sem ser “no papel” o seu casamento não afetaria os “Calcanhares de Aquiles” da poderosa igreja Católica ( Talvez isso explique ou se imagine à vasta quantidade de padres homossexuais na santa igreja que não podem sair do armário). Mas fato é que agora com o professor sem emprego, já que o outro companheiro mais idoso do casal vivia de uma pequena aposentadoria, o casal desta forma vê-se sem condições de continuar pagando o aluguel de casa que moraram por longos e românticos dezoito anos ( e somente por dois anos não tiveram o direito de ter a residência para eles ), e por isso se veem de um segundo para o outro, pelo simples fato de uma cerimonia, não terem o direito de um teto para chamar de seu. O arco narrativo do filme se desenvolve a partir desta situação de não moradia de um casal estável financeiramente há pouquíssimos dias atrás. Sem terem a quem recorrer, ou melhor, tendo ainda há alguns poucos amigos há quem recorressem, eles fazem exatamente isso e se separam momentaneamente indo um morar em uma casa e o outro em outra de outro amigo em comum do casal de artistas. A grande sacada do roteiro não está na tentativa em abordar: “Os problemas de minorias”, mas sim na tentativa “exitiva” do filme focar-se no lado “sem teto” dos personagens centrais da trama, trocando em miúdos, a especulação imobiliária fora o centro do problema do roteiro, e não o fato de terem como gays os seus personagens principais, ou seja, em tempos de crise como o que passamos, esta situação de perder o emprego e ficar sem casa pode literalmente acontecer com qualquer pessoa, e para que isso aconteça basta apenas que não se jogue com as mesmas fichas desse sistema capitalista bruto “nú e crú”, e caso não entremos nesse esquema de esquizofrenia social , corremos seriamente o risco de acabar como o casal da trama, ou seja, sem eira e nem beira, e definitivamente “você perdeu playboy!”. As minorias nunca venceram, todavia existe uma contradição, especificamente nesta temática gay: Há poucos dias atrás o país mais evoluído e rico do mundo ( EUA ) declarou totais direitos a pessoas do mesmo sexo que queiram se unir perante a lei daquele país. Então a pergunta que não quer calar e consequentemente deixo aos leitores é a seguinte: O Brasil, entre outros muitos países racistas e machistas existentes na América do Sul e Caribenha( isto sem mencionar Espanha e Portugal), estariam mais ou menos evoluídos sobre a questão “das minorias”? Acho que não precisa ter, não muito, mas ao menos um mínimo de bom senso e pouca estupidez para que cheguemos à conclusão que países como o nosso e doutros citados encontra-se ainda em idade pré-histórica quando o assunto é direitos humanos. Belo filme este O amor é estranho; Forte e firme na hora que tem de ser através do seu virtuoso diretor e sensível quando o foco do assunto é o ser humano, independente de sua raça, sexo, religião, opção sexual e social.

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