Leviatã

Visceralmente na medida certa. Leviatã, de Vérena Paravel e Lucien Castaing-Taylor, França, Inglaterra, EUA, 2012; É acima de qualquer outro argumento um documentário a frente do seu tempo. Com uma pungência sensorial a obra aborda de forma visceral a relação homem x natureza, ou homem X; O “xis” leia-se como versus mortal inevitavelmente, a qualquer outro ser ou coisa que não seja o próprio homem, trocando em miúdos animais, terra, água, recursos naturais e meteorológicos ou outros quaisquer que, de uma forma ou de outra, atrapalhe o “progresso” humano. O documentário se torna mais que interessante porque além de abordar o que o homem faz com o meio em que vive, a obra tem a desfaçatez ou a esperteza que não ter consolidado nenhum protagonista, ou sequer mesmo uma história com início, meio e fim. De certa maneira o não ter um formato tradicional fílmico faz de Leviatã instigante e castigante ao mesmo tempo. No documentário temos um navio cargueiro que é acompanhado de doze câmeras durante um ano ininterrupto. O resultado das imagens é de fato sensacional mostrando-nos a vida diária de tripulantes da navegação. Entretanto é importante relembrar que no documentário não existia protagonista (s), pelo fato de por minutos a câmera se focar em peixes abatidos dentro do navio em câmeras pequenas à prova d`água, ou ora mudava-se o foco na grua da cargueiro, ou até capturava-se imagens aquáticas da borda inferior da parte externa do cargueiro peixeiro, fazendo com que o movimento da maré em alto mar filmasse tanto imagens aquáticas , mas também quando a borda “conseguia respirar”, e aí víamos a guerra da mãe natureza selvagem em busca dos peixes que ficavam na parte de fora das redes de pescas através de embates de milhares de gaivotas, trocando em miúdos imagens que nos instigam a pensar: “Nossa, o que é que estou vendo aqui? Isto é inovador e sensacional !". Como o filme foi produzido por laboratórios de Antropologia, ou seja, a meu ver sem pretensões estilistas fílmicas de cinema mundo afora no sentido de querer ganhar prêmios importantes de festivais de cinema; Esta “não ambição ou pretensão de reconhecimento” que é o seu grande mérito: O de não querer nada e de repente poder mudar tudo através do processo do gênero documentário, onde as surpresas estão sempre mais aguçadas a acontecer. Uma experiência sensorial única e inesquecível, e inclusive muito melhor que seu xará russo que concorreu a melhor filme estrangeiro neste ano no Oscar e não levando, mostrando os problemas atuais da Rússia. O nosso Leviatã comentado, por ser uma obra diferenciadíssima, sem sombra de dúvidas, vale ser conferido e digerido para então entendermos e cuidarmos do que ainda temos.

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