Mapa para as estrelas

Mapa para as estrelas, dirigido pelo sempre excelente, e também excêntrico David Cronenberg, em uma mista produção de quatro nacionalidades: Canadá, EUA, França e Alemanha, 2015. O premiado diretor sai do seu senso comum ou da zona de conforto e pela primeira vez se arrisca a produzir um filme que conta os lados obscuros e pouco ou nada conhecidos das estrelas do cinema estadunidense, conhecidas também pelo nome de celebridades. A impressão que dá é que Cronenberg escolhe a dedos os seus cinco principais atores da trama para interpretar personagens complexos e excêntricos. Temos um tipo de guru espiritual e diretor de cinema, interpretado pelo tarimbado John Cusack. Ao seu lado tem-se a sua esposa ( de atuação e importância no roteiro bem menos importante): Uma produtora de cinema de natureza frágil e dependente emocionalmente do marido pra lá de esperto. Para completar os cincos personagens centrais da trama temos ainda uma espécie de, alias espécie não, uma mega estrela Teen de um boy de treze anos de idade e cheio de marra, por sinal. O que realmente chama atenção na natureza deste personagem teen é o modo descartável como o guri vê o mundo e as pessoas; Para ele tudo era uma merda, inclusive e principalmente a indústria cinematográfica do seu país, de modo que o ator mirim antes mesmo da puberdade e por culpa do estrelato promíscuo e também de seu passado familiar pra lá de aterrorizador ( este segredo familiar é o ponto chave da trama, e que no fim da sessão faz com que digamos valeu esperar o desfecho do filme), o faz, antes mesmo de completar seus “importantes” onze anos de idade em um dependentezinho químico com direito a várias internações inclusive. Ainda temos a personagem enigmática da trama, e também podemos considerá-la como protagonista. Uma garota que logo quando começa o filme ela aparece com parte do rosto queimado ou transfigurado. Cicatriz esta que se torna como um elemento chave para toda a trama ( Não vou contar este segredo da sua queimadura , pois estaria contando sem querer o filme todo, só posso adiantar que trata-se de dividas emocionais familiares ligadas ao nosso jovem teen-celebridade). Mas como ia mencionando , tal garota com seus recentes dezoito anos completados, e por isso uma cidadã de maior idade, aparece no inicio do filme chegando em Los Angeles procurando uma limusine para alugar, cujo motorista era um ator e roteirista “invisível” para os olhos da indústria de Hollywood , interpretado pelo eterno vampirinho da saga crepúsculo Robert Pattinson. Quase ia me esquecendo em citar o último dos cinco personagens centrais da trama: Uma atriz em pleno declínio de carreira que fazia de tudo um pouco para voltar ao estrelato, e de certa forma, honrar o nome da sua mãe, esta sim que fora uma grande atriz e não como sua filha: uma espécie de projeto mal sucedido de atriz. A grosso modo poderíamos comparar mãe e filha em matéria de atuação com a mãe Fernanda Montenegro e sua filha Fernanda Torres, ou seja, a mãe como sendo a melhor atriz do Brasil, e a filha por sua vez, apenas como um tipo de projeto de atriz de comédia que não dera muito êxito ( tanto que ela se envereda na literatura agora; antes tarde do que nunca ). Entretanto a catarse desta personagem da obra fílmica ( a filha ou o projeto de atriz) em especial acontece quando ela não consegue fazer um remix do filme de mais sucesso da mãe falecida anos atrás. A consequência deste trauma é que a atriz, interpretada pela incrivelmente enxuta cinquentona (para não escrever gostosa mesmo) Julianne Moore, se perde no mundo do “faço tudo a qualquer preço; Me acabo, me drogo, me prostituo em prol do estrelato”, pois para ela nada mais tinha valor, somente o sucesso, um tipo de doença pela fama que estamos carecas de ver com tantas pessoas que correm atrás disso em torna parte do mundo, inclusive em um país tropical latino americano chamado Brasil, onde um caipira semianalfabeto se torna uma puta celebridade somente por conseguir decorar uma dúzia de palavras ditas como difíceis e ganhar um reality-show. Entretanto voltando ao filme do Cronenberg, o diretor ao meu modo de perceber quis mostrar exatamente isso: A fama pela fama, onde vale tudo pera chegar nela. Como trata-se de uma obra fílmica de um diretor do gabarito como é o do David Cronenberg a obra não se foca somente a questão da fama pura e simplesmente. O diretor tem a sensibilidade (ou seria a pura genialidade?) de mostrar de maneira sutil, porém eficaz, como as estrelas de Hollywood se comportam e se mostram para resolver as suas pendengas existenciais, ou seja, com sutileza o filme nos permite adentrarmos neste mundo para pouquíssimos seres, que são os das estrelas de cinema, e conhecendo esse seleto universo podemos comparar o mundo deles com os nossos com o único intuito e objetivo de melhorar o nosso medíocre, porem real, mundo que vivemos. Um filme do David Cronenberg sempre terá elementos a serem analisados e estudados, e este resenhado então, que foge de todos os padrões da sua vasta cinematografia, tem que ser obrigatoriamente conferido aos que se intitulam como amantes da sétima arte.

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