Depois da chuva

Depois da chuva, com direção dupla de Claudio Marques e Marília Hughes, Bahia- Brasil, 2013. Existem filmes que são fáceis em serem resenhados; Logo quando os assisto vem sem sofrimento algum a escrita deles. Entretanto outra classe de obras fílmicas tende-se a serem mais complexas de serem escritas. Trata-se de filmes que, de alguma maneira, passam algo de realmente profundo para reflexão de quem os assiste e por isso despreendem-se de certo tempo de digerimento para sua crítica. O crítico não consegue simplesmente sair do cinema e sentar a bunda no computador e começar a resenhá-lo, pois pertence a um grupo de obras fílmicas que existem um projeto oculto nas suas entre cenas pra modo da gente pensar, sobretudo, em nossos problemas contemporâneos atuais, sejam estes de cunho político ou social. Pois bem, Depois da chuva pertence a esse tipo de filme que te faz pensar em como podemos mudar, pra melhor, as nossas vidas com as repletas idiossincrasias políticas e sociais que nos rodeiam ou até mais radicalmente, nos castram. A estória se passa na Salvador no ano 1984, exatamente logo após o término da ditadura militar no Brasil com os seus resquícios para todos, independente da idade. Como personagem central temos um garoto, que meio que tentava assimilar as mudanças políticas e sociais do seu tempo, juntamente com suas mudanças hormonais da fase de adolescente. O filme tem uma pegada lúcida política tão bacana, que por vezes o roteiro se torna adulto demais para aquele garoto que ao mesmo tempo em que fazia parte de uma rádio clandestina com mais dois amigos punks, e por isso “encarava” e ia de encontro contrário ao sistema, mas como também o mesmo garoto cheio de personalidade queria se candidatar para ser o presidente do grêmio da sua escola particular. Um pouco discrepante estes dois desejos do protagonista: Queria ao mesmo tempo mandar um Foda-se ao sistema em absoluto , não respeitando regra alguma, porém o mesmo cidadão tinha o desejo de mudar as condições da sua escola em prol de uma melhora para os alunos. Lados ambíguos, pois na rádio ele era o radical punk, porém sua atitude na escola o fazia um político. Tempos difíceis eram estes após a queda do longuíssimo regime militar brasileiro. O personagem central da trama consegue, com exímio êxito, simbolizar o esquizofrenismo coletivo do cidadão brasileiro com mudanças sociais e políticas tão grandes daquela época. Destaque também para a trilha sonora do filme, que consegue em determinadas cenas, nos transpor a uma experiência agradavelmente sensorial que, por sinal, ainda encontra-se nas salas de cinema de Salvador; Então corre lá e assista, pois vale, sobretudo pela coragem da obra fílmica em se produzir em pleno século XXI um filme tão lúcido e contestador; Filme classe A, e acima de tudo ( infelizmente) super necessário, pois pelo que observamos, pouco ou nada concretamente mudou-se no país de 1984 até 2015.

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