O som ao redor


O som ao redor, Brasil, 2012. Sem titubear estamos falando do filme mais completo após a era “Cidade de Deus” do Fernando Meirelles no inicio de 2000. Por isso já podemos classificar a obra do Kléber Mendonça Filho como um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos. Não é a toa que a produção abocanhou os principais prêmios dos festivais de cinema do Brasil e ainda se destacou no principal festival de cinema da América Latina, que é o de Havana em Cuba, ganhando também assim como em outros festivais como o de melhor filme.

Com um final que não nos deixa dúvida da qualidade do filme, O Som ao redor mistura um excelente roteiro a acidez nas entrelinhas dos seus personagens alinhada à escolha do diretor em não ter protagonistas, a fita Recifense destoa do senso e arrasa genialmente mostrando exatamente o comum, ou seja, o cotidiano de um determinado bairro de classe alta da capital pernambucana, bairro este que por coincidência ou não é onde reside o diretor do filme, porém pela qualidade da trama poderia ser qualquer outro local, visto que os problemas, lamúrias, alegrias e desesperos de seus moradores serviriam para qualquer outro bairro de qualquer outra cidade tamanha a qualidade da fita. O Som ao redor flerta e escancara os jogos sociais que somos obrigados a seguir para sobreviver de uns para com os outros, aborda ainda mais as paranoias do que é viver com medo da violência urbana mesmo estando preso em meio a grades e alarmes de segurança. Pode ser exagero meu, mas pelo filme ser tão contestador no sentido de confiar ou simplesmente colocar em xeque a convivência com outras pessoas que se chega à conclusão ou joga-se a pergunta ao ar: O ser humano é mesmo um erro?

Com esse grau de instigação e posteriormente de indignação a obra do genial Kléber Mendonça Filho veio para fincar a bandeira de uma vez por todas aos ainda que duvidavam da qualidade do cinema pernambucano, que este não somente veio para ficar, mais para reorganizar a nova ordem do cinema brasileiro, agora basta a Ancine ter a lucidez e deixar os jogos políticos de lado para colocar o cinema de Pernambuco como o polo de cinema mais importante do país, deixando Rio de Janeiro e São Paulo em segunda instância, coisa da qual duvido que aconteça e por isso ainda continuaremos a fazer um cinema de terceiro mundo. De qualquer modo parabéns ao cinema nacional ter feito um filme de tamanha qualidade, e em especial ao seu diretor.

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