Desejo de ser mãe ou Nordeste
Desejo de ser mãe ou Nordeste, Espanha,
Bélgica, Argentina e França, 2005, do diretor Juan
Solanas. Assim
como no Brasil, o nordeste argentino é desprovido de leis onde a bala é quem dita os acontecimentos. A estória se passa com a obstinação de uma vendedora de remédios francesa
em adotar um recém-nascido naquela região argentina conhecida como a capital
mundial do trafego de crianças e órgãos. Mas para tal desejo ela
obrigatoriamente tem de literalmente se afundar nas condições de vida daquelas
pessoas tratadas como bicho ou coisa pior, pois direitos mais elementares não tinham,
tais como: moradia, educação e falta de comida. Nesse a cada dia descobrimento
da miséria sul americana a francesa vai se corroendo por dentro e percebendo
que de certo modo contribui para o estado de vida daqueles portenhos querendo a
qualquer modo e preço comprar e levar um bebe daquela miséria. Nem toda frieza gaulesa
é capaz do assentimento da situação dos argentinos, de modo que temos ao final
de um drama super bem feito de roteiro e direção de arte algumas dúvidas no ar
como: será que toda aquela obstinação da vendedora francesa no inicio da fita em
adotar uma criança continua na sua mente ou diante de tudo que ela viu ela muda
de ideia. Até mesmo porque em determinado momento do drama , quando ela
atordoada com a perda do seu primeiro bebe adotado por questões de males de nascimento,
procura a freira da região em que a qual lhe faz mais que uma orientação, mas
uma indagação: “Minha filha, sabia que com todo esse dinheiro que dará para comprar
um filho, você sabia que daria para sustentar cinquentas famílias durante algum
tempo?”. Não sei se foi impressão minha ou se o diretor fez de propósito mais
depois desse diálogo a protagonista pareceu-me mais pensativa, chorosa e acima
de tudo culposa por seu egoísmo de ter uma criança e levá-la a qualquer custo
para a França, sem se importar com os sentimentos das mães , que pela situação de
extrema miséria que viviam eram obrigadas a dar suas crias para poderem ter ao
menos o que comer. Como mencionei o final ficou meio que aberto, não dando um
ponto ou explicação dos fatos que sucederiam após ela ficar confusa em adotar
uma criança e tirá-la da miséria e criminalidade ou deixarem com seus parentes
vivendo pobremente, porém sem problemas existências e somente financeiros. Isso
ficou aberto de modo que a meu ver enriqueceu ainda mais (pelo fato de você tirar
as conclusões do que o mais correto seria a fazer, ou seja: adotar ou não) a densa
carga dramática da fita argentina, que escreva-se de passagem de uma qualidade
só vista neste país na pobre ainda America do Sul, e que também de uma maneira
oculta faz admirarmos aquele povo desprovido de tantas coisas materiais, porém
com uma generosidade imaterial comovente.
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