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Mostrando postagens de janeiro, 2021

#E Agora o Que

  #E Agora o Que , dirigido por Jean-Claude Bernardet / Rubens Rewald , SP/2020. O filme inicia-se com um diálogo entre o Jean Claude Bernadet e uma menina: “ Este jogo é de matar?”, ele pergunta, e arremeda: “e você gosta de matar gente?”; a menininha reponde: Sim , eu adoro matar gente! A frase : “ seja marginal, seja herói”, de certa forma sintetiza a provocadora obra fílmica, mas vamos mais além. Pra mim, o motoboy é o símbolo do capitalismo, porque consegue abranger todas as classes, quando um serve e outro é servido, por necessidade de ambas. A pessoa pede porque está com fome, e a maior parte das vezes a fome é uma necessidade emocional da cobrança de um sistema servil onde você tem que literalmente correr atrás do pão de cada dia. Ou seja: seu corpo não tá pedindo comida, mas a ansiedade de um trabalho mal ou não entregado te faz ter insônia, e no dia seguinte você rende pouco, e por isso tanta grana gasta com o Ifood, até mesmo porque se você não comer é pior ainda , porque a

Voltei !

  Voltei ! , dirigido por Ary Rosa e Glenda Nicásio, BA/2020. concorrendo na 24 Mostra de Cinema de Tiradentes – 2021, abrindo o calendário brasileiro dos festivais de cinema . O ano é no futuro e o Brasil encontra-se em uma crise elétrica nunca dantes vista. Como em uma peça de teatro, duas mulheres conversam a luz de velas. Uma quer mijar e a outra a pirraça, contando seus podres, dizendo como ela mijava na avenida sete no carnaval. Não sei se cabe a comparação, mas lembrei dos filmes de Bergman em muitos momentos, por ter diálogos retos e concisos, e mostrando como em momentos de pensamentos de: “e agora, o que faço pra me dar com isso? Já que está tudo acabando e tudo está acabando comigo..”. Uma terceira personagem, mulher também, entra na narrativa escura de fim de mundo: uma prima que já julgavam como morta, aparece do nada e a conversa fica mais afiada , e interessante, ainda. Conta como foi seu caso com o governador, ao fundo ouvimos um radinho de pinha contando as últimas da

Vander

  Vander , de Barbara Carmo, BA/2020;  concorrendo na 24 Mostra de Cinema de Tiradentes – 2021, abrindo o calendário brasileiro dos festivais de cinema.  Quando escrevo que o filme é da Barbara, e não dirigido por ela, é porque existe um grau de pertencimento, ou seja, o filme diz respeito, e mais: fala quem ela é, e porque ela é assim: triste, e com razão. Existe uma única tomada no curta-metragem: a foto 3X4 do pai, Vander. No fundo tem-se a narração da Barbara dizendo quem ele é, alias quem ele foi e porque foi. Vander era alcoólatra , tomava remédio para bipolaridade, era preto, e era constantemente abordado pela polícia. Sim , hoje Vander está morto , por uma dessas abordagens policiais das quais sofrera a vida toda. Vander sumiu antes de morrer, verdade, mas mais verdade ainda é que Vander já se encontrava ausente da sua filha Barbara já fazia tempo devido ao álcool e a problemas mentais. Vander fez porque é gostoso fazer; Vander não mediu as consequências porque na hora a régua

Rosa Tirana

  Rosa Tirana , dirigido por Rogério Sagui, BA/2020; c oncorrendo na 24 Mostra de Cinema de Tiradentes – 2021, abrindo o calendário brasileiro dos festivais de cinema.  Rodada em Poções, agreste baiano, não podemos cravar que trata-se de uma obra experimental, até mesmo porque existe uma estória a ser contada; contudo a trama de uma menina fugir de casa por maus tratos pouco fica de lembrança no final do longa. O que se registra de mais forte é o caminho, e não o fim. Ou seja: as pessoas que a menina encontra no decorrer no “sair de casa”. De inicio temos o mago José Dumont , interpretando um típico ceguinho poeta de interior, e metaforicamente tal persona simboliza a cegueira da humanidade sobre o seu próprio ato de existir, fazendo que a própria natureza árida da terra nos dê uma “força” de nos interarmos mais ainda pra baixo. Todavia a fotografia e a trilha sonora é absurdamente bela, e nos eleva, e tira-nos da aspereza de clima e realidade tão hostis: a fome. Mas do que um roteiro

Todas as Melodias

  Todas as Melodias , de Marcus Abujamra, SP/2020.   Dois artistas fazem parte do meu histórico de vida; Jorge Amado e Luís Melodia. Com Jorge Amado era apelidado por “meu alemãozinho” e me ninado toda final de tarde, na casa da Rua Alagoinhas, já que éramos vizinhos de frente. Com Melodia me lembro de cada instante que passava com ele na praia dos artistas , na Boca do Rio. Ficava vendo aquele monte de artistas nos anos 1980, falando até a boca não aguentar mais, e me perguntava: como eles tem tanta saliva? Quando ficava olhando pra aquela figura de cabelos longos e corpo magro, ele sentia meu olhar e ria. Seu riso pra mim não era nada de pacificador; começava a ficar agitado e logo pegava minha prancha de isopor e me picava pro mar. Deve ser o poder dos poetas, aquele instante em que era “carcomido” pelas íris de Melodia, que pareciam duas brasas poderosas! Entretanto uma ocasião em especial fez-me ver o poder da superioridade humana de uma pessoa em relação à outra. É o seguinte: Me

5 Fitas

  5 Fitas , curta-metragem de Heraldo de Deus e Vilma Martins, BA/2020; concorrendo na 24 Mostra de Cinema de Tiradentes – 2021, abrindo o calendário brasileiro dos festivais de cinema.  A simplicidade é a maior, ou melhor, é a coisa mais difícil em uma obra fílmica. Saber colocar a câmera naquele instante de movimento brusco , ou saber achar o plano sequência correto, que imprima os sentimentos mais inabitáveis dos personagens , é o que faz a diferença entre um filme simples há um filme simplista. No filme simples, este é tão deveras simples que achamos, com certa facilidade, escreva-se de passagem, os conceitos profundo deste tipo de gênero cinematográfico. Filmes simples tendem a serem filosóficos por focarem em poucos temas e por isso expandi-los. Já os filmes simplistas são aqueles que não têm profundidade filosófica, como os filmes simples, e por isso não   acrescentam em nada após assisti-los. O curta de Heraldo é um típico exemplar de filme simples, e por isso filosófico. O enr

Novos tempos, novos rumos.

 Encho-me de orgulho em escrever já por 14 anos neste blog, e não ter recorrido a nenhum tipo de publicidade. O próprio título do blog : Escrevendo Espanando, já explica a sua finalidade, ou seja, o ato de escrever como uma forma de auto-conhecimento, e prazer também. É bem verdade que durante todos esses anos de existência do blog, foram poucas as pessoas ou empresas que quiseram colocar alguma propaganda, e isto até em certo momentos achava que era por eu não escrever bem, ou os assuntos por mim abordados ( na maioria, críticas cinematográficas), não seriam de grande interesse da maior parte das pessoas, e de fato não é. Cinema é uma arte que poucos conseguem realizar, para em contrapartida, muitos colocarem seus traseiros no sofá ou nas cadeiras dos cinemas e assistir esquecendo, mesmo que seja por duas horas, os problemas do cotidiano. Em 2007/2008, morando em São Paulo, criei este blog para escrever contos, depois passei por poesias, analises políticas, campanhas eleitorais até ch