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Mostrando postagens de agosto, 2019

Bacurau

Bacurau , dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, Brasil, 2019.Ainda não vi o filme que foi indicado pelo Minc ao Oscar, porque este não entrou em cartaz, mas já adianto meu voto a Bacurau para este posto, pois melhor que ele dificilmente teremos este ano. Ganhador de melhor filme no festival de Munique, e obtido o prêmio especial do Júri  em Cannes ( o prímeiro filme sul-americano a ganhar o terceiro troféu em peso do prestígiado festival europeu), o filme se divaga entre a ficção científica e um velho-oeste que fala tupiniquim . Bacurau quer dizer um pássaro, não um passarinho: uma ave maior, que só se vê à noite. Entramos no filme e na cidadezinha com mesmo nome. Conhecemos seus habitantes e até seu prefeito. Quando se tenta achar a cidade no Google Maps, não se acha nada, mas Bacurau existe, mas ninguém o vê. Na estranheza de existir só pra si, Bacurau e seus habitantes nos mostra que a simplicidade pode ser tão difusa quanto a melhor das engenhosidades humana

Trajetória

Trajetória 0/7 – Fase bela, porém estranha. Tinha amigos imaginários. Não gostava de estudar na mesma escola em que minha mãe dava aula de teatro. Não me lembro bem, mas acho que chorava bastante por ter um irmão, meio irmão, que me chamava de “Diogo Farofa Com Ovo!”, o Cendi. Comecei a perceber , bem timidamente, que este meio irmão se parecia mais comigo do que os outros dois integrais irmãos. Seria uma questão genética? Hoje vejo que talvez sim, embora eu e o Cendi sejamos completamente diferentes, mas meio que nossas diferenças se juntavam, sabe? Coisa que não acontece com meus outros dois irmãos. Acho que no fundo me sentia como o Cendi, sem saber, ou seja: me sentia como filho único desde sempre. Gostava muito de jogar bola e ser paparicado por ser bom de bola, começava a rir quando alguém me dizia que era bom de bola. Nessa fase tudo é mágico, e rápido, de modo que a fase, para adquirir bagagem humana é essa, e Freud já alertava. Zico era uma lenda pra mim, porque

Bolsonaro

Muitos discordarão, mas Bolsonaro foi um mal necessário. Quem o elegeu foi à incapacidade de gerenciamento e planejamento estratégico dos partidos políticos tradicionais, e obvio: a corrupção que sangrava nosso país. O PT parou no quesito das campanhas em uma nova plataforma: a internet. E não que o partido tenha aprendido com a derrota presidencial, o PT ainda não sabe fazer campanha política usando a internet, isso é nítido e ocorre por um tipo de mascara que eles acreditam que só o nome do partido ganharia qualquer eleição: ledo engano, pois nesse país corrupto não existe mais nenhum Deus acima de qualquer coisa. A população deu sua resposta de indignação de tanta roubalheira por tantos governos. A Dilma, por exemplo, a única coisa que ela sabia fazer direito era pedalar todas as manhãs, e por ironia do seu governo acabou sendo deposta por pedaladas fiscais. Os petistas chamam de golpe o impeachment da Dilma Roussef, já eu vejo que não tinha como ela continuar governando pelo fato

Mérli

Mérli, Espanha. A série tem nome de peixe e já saiu da Netflix, o que é um desperdício com tantas séries, de ruins pra péssimas, por lá. A produção ficou a cargo do canal espanhol Tve: o mesmo que produziu as duas primeiras temporadas da Casa de Papel, contudo o que Mérli tem de tão bom assim para este resenhista querer abordá-la? De bate pronto escrevo que é bem melhor que A Casa de Papel, com suas três temporadas, e falo de uma síntese geral comparando uma com a outra, embora os temas sejam diferentes. Em Mérli temos como protagonista um professor de filosofia lecionando em uma escola pública, em Barcelona. As três temporadas abordam diferentes filósofos em sala de aula e estas aulas expandem-se com ações e consequências nas vidas dos alunos e também do próprio Mérli. Temos o interessante caso de um aluno que sofre de síndrome do pânico , e por isso não consegue sair de casa. Mérli o ajuda com a famosa Caverna de Platão e este se torna um dos líderes da sua escola. Em sala de aula

Indústria Americana

Indústria Americana, u m original Netflix, China/Eua, 2019. O documentário mostra a instalação e o funcionamento de uma indústria chinesa de grande porte no território do estado estadunidense de Utah. O doc nos mostra a inversão de valores, isto é, como os chineses olham o povo arrogante estadunidense, e por tabela, a todos nós ocidentais que babam o ovo do tio sã. Segundo o próprio mandatário da indústria , os americanos tem os dedos gordos e são lentos, e por isso impede qualquer tipo de sindicato em solo americano do norte. O ponto central que norteia o excelente doc é esse: os trabalhadores lutando por direitos, enquanto a nova mandatária mundial no setor do comércio, a China, acha que os funcionários podem doar bem mais do que estão “doando”. A pergunta que fica é quem tem razão nessa história. Logo se vê que nenhum dos lados tem razão, mas também é necessário achar um meio termo , porque quer queiram ou não, estamos falando dos dois principais países do mundo no quesito economi

Fevereiros

Fevereiros , escrito , dirigido e produzido por Márcio Debellian, Brasil, 2018. O documentário investiga esse ser instigante que é Maria Bethânia, e a fundo, em pleno ano ao qual a cantora fora homenageada em 2016 na sua escola de samba: A Mangueira, entretanto para que a homenagem se suceda temos que voltar ao inicio de tudo pra ela: Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano. Desde muita nova a artista entrara ao mundo das batucadas do candomblé, e como não podia ser diferente, o filme consome parte significativa de sua rodagem na relação da artista com sua religião, esta mesma religião que também abocanharia boa parte do desfile vencedor da Mangueira daquele ano, a verde e rosa. Todavia o doc. , bem ensejado em muitos festivais de cinema nacionais e internacionais, não se restringe pela questão espiritual e religiosa de Betânia, mas abrange também a sua formação artística, e tratando-se desse quesito o seu maior incentivador e referência era a sua alma gêmea, e ainda é, Caeta

Mussum – Um Filme do Cacildis

Mussum – Um Filme do Cacildis, de Suzzana Lira, Brasil, 2018 . Na verdade trata-se de um filme-documento, mais conhecido por documentário. Este mostra a trajetória do sambista que tornou-se a principal personagem negra na tevê , e não só no humor. O doc. tem narrativas das principais personas que conviveram com Musum, e os que ele nem conheceu, caso de alguns filhos, como o Mussunzinho, ator também. O nome artístico surgiu no palco quando o sambista ‘ Mussum” não deixava o Grande Otelo contar suas piadas, este que furiosamente o xinga de Mussum. O termo em si trata-se de qualquer tipo de bebida ou de uma bebida inferior, portanto apelativa. O nome pega fama, assim como o sambista Antônio Carlos Bernardes Gomes pega fama, também, com o grupo Os Trapalhões. A vida é tão engenhosa que tínhamos um comediante conhecido por nome de bebida alcoólica , e que este adorava de fato um “mé”. O termo Mussum te dá uma amplitude artística que o Carlos não tinha no seu grupo de samba: Os Originais

Era Uma Vez Em... Hollywood

Era Uma Vez Em... Hollywood, de Tarantino, EUA, 2019.   Somente os grandes mestres sabem o quão é importante ter em sua cinebiografia uma obra dedicada à arte da feitura de um filme. Trocando em miúdos trata-se de um tipo de recompensa a sétima arte; esta que dera tantos outros filmes ao mesmo diretor. Tarantino meio que agradece ao cinema, coisa feita só por ele, falando de uma geração desapegada a este tipo de elogio, Tarantino nos salva e nos joga, tela abaixo, uma homenagem à sétima arte à moda dele, uai. O filme inicia-se com um papo cabeça entre um produtor ( El Pacino ) com um ator desprestegiado, para a ocasião   ( Leonardo Dicaprio ) . Al Pacino some do filme após a conversa, de modo que acompanhamos a carreira do ator , o qual já estava em idade avançada para o sucesso, e consequetemente também acompanharíamos a vida do duble do ator, interpretada por Brad Pit. Fiz questão de não colocar parênteses em Brad Pit porque ele tá foda mesmo no filme, ao ponto de roubar a person

Dor e Glória

Dor e Glória, Escrito e dirigido por Pedro Almodóvar, Espanha/2019. A cinebiografia de um dos mais talentosos cineastas espanhóis de todos os tempos, Pedro Almodóvar, é interpretada por outro gênio: Antônio Bandeiras. O título do filme está em ordem correta, ou seja, a dor vem antes e mais pulsante do que a glória quando nos remetemos a ouvir e ver o filme. Nesta cinebiografia Almodóvar não carrega de cores sua película, mas também não deixa de tê-las com cenários pra lá de surreais, como são os móveis de sua cozinha, por exemplo. Em comparação aos seus outros filmes Dor e Glória é um dos menos coloridos, disso temos assertiva certeza. O filme mergulha fundo na questão das drogas para a criação de seus filmes, e mostra um cineasta perdido entre criar e se cuidar. Dilema este que vai até o final do filme, ou seja, ainda perdura-se em sua trajetória, já que o espanhol continua fazendo filmes e consequentemente respirando por tal motivo. A questão do homossexualismo é pouco explorada na

O Conto

Errado é o jargão popular que diz: “ Quem conta um ponto , aumenta um conto”. Na realidade é exatamente o contrário. Ou seja: quem se pré-dispõe a fazer um conto, na verdade está diminuindo, bastante, algo e não aumentando nada. A estrutura do gênero do conto se dá com a capacidade de escrever pouco e profundamente, e talvez por isso, o conto literário seja tão difícil de escrever-se.   Algumas regras básicas faz com que diferenciamos o conto do romance, por exemplo. Enquanto que no romance existe uma longa jornada pela frente, inclusive incluindo a grandiloquência das personagens e imagens do local da narrativa romanesca. Já o conto fica sendo a abreviação total destas informações ditas como supérfluas. O contista e crítico argentino Cortazar diz que no conto o escritor ganha a luta contra o leitor por nocaute, e em contrapartida por pontos se for pelo romance, e ele está certíssimo! Vejemos um exemplo de escritora brasileira, ou seja, que fez sua carreira literária acontecer no B

Terra Nostra

Novela vista em 2000 e reassistida em 2019. Como o próprio título sugere trata-se de uma novela cujo o tema central é a emigração italiana no Brasil quando a escravidão acabara , e como existia uma carência de mão-de-obra para o cultivo da nossa maior riqueza da época e que movia o país economicamente, o café, e os italianos por sua vez, passavam por problemas financeiros, ou melhor estavam passando fome em nostra Itália, acabaram por vir ao Brasil em navios , os mesmos que faziam a desembarcação dos escravos negros oriundos do continente africano, onde nessas longínquas viagens marítimas acarretaram em inúmeras mortes durante o trajeto. No caso específico italiano: muitos morreram provenientes da peste bulbônica e eram arremessados ao mar, e assim os que sobreviviam desembarcavam no porto de Santos e lavoravam nas fazendas de cafés paulistas mineiras cariocas A percepção que tive quando vi a novela em 2000 fora totalmente diferente do que vejo agora ( vejo porque ainda está no a