Todas as Melodias

 

Todas as Melodias, de Marcus Abujamra, SP/2020. Dois artistas fazem parte do meu histórico de vida; Jorge Amado e Luís Melodia. Com Jorge Amado era apelidado por “meu alemãozinho” e me ninado toda final de tarde, na casa da Rua Alagoinhas, já que éramos vizinhos de frente. Com Melodia me lembro de cada instante que passava com ele na praia dos artistas , na Boca do Rio. Ficava vendo aquele monte de artistas nos anos 1980, falando até a boca não aguentar mais, e me perguntava: como eles tem tanta saliva? Quando ficava olhando pra aquela figura de cabelos longos e corpo magro, ele sentia meu olhar e ria. Seu riso pra mim não era nada de pacificador; começava a ficar agitado e logo pegava minha prancha de isopor e me picava pro mar. Deve ser o poder dos poetas, aquele instante em que era “carcomido” pelas íris de Melodia, que pareciam duas brasas poderosas! Entretanto uma ocasião em especial fez-me ver o poder da superioridade humana de uma pessoa em relação à outra. É o seguinte: Melodia começou a paquerar a minha mãe, e o meu pai ficou totalmente descontrolado e foi pro embate da situação. Melodia não se apequenou: manteve postura ereta e olhos poderosos em direção a meu pai; resultado: saiu por cima, porque na verdade quem estava sendo paquerado era ele, então meu pai não tinha razão alguma pra reclamar de nada. E Melodia, vendo que estavam dando mole pra ele, foi pra cima, sem querer saber se tinha ou não marido. Quando viu que  com aquele ele não podia, meu pai abaixou a cabeça reconhecendo a vitória de um ser humano mais evoluído que ele. Quando se é criança, situações como essas jamais ficam esquecidas. Este pequeno relato serve, também, para descrever o que senti assistindo a cinebiografia deste grande poeta brasileiro. Visceral, assim foi Melodia, e assim está neste estupendo documentário visto na 24 Mostra de Cinema de Tiradentes .

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