Bichos Escrotos

Todos acertavam os últimos detalhes dos figurinos que iriam usar naquele casamento de grã-fino. Eu parecia invisível diante de todos, e além do mais, pai, irmão e conhecidos não acreditavam que de fato iria, que arrumava um terno, que para a ocasião se fazia obrigatório, pois dinheiro meu: não tinha para comprar. Acabei arrumando a roupa, hoje não lembro quem foi que emprestou a peça inteira, com calças, sapato e gravata, além do terno, e acabei indo ao casamento de uma amiga de um conhecido da família, melhor, ele era membro da família. Fui, mas não esqueci da sacanagem que me fizeram me olhando de invisível diante da ocasião. Era um casamento de gente importante, tanto que um ministro nacional estava no casório, além da alta sociedade do estado. Quando via os sacanas que não acreditavam que estaria ali, chegava perto do ouvido e falava: não falei que vinha? Eles me olhavam, davam uma risadinha amarela, e continuavam a me ignorar, no máximo falavam: que bom que veio, mas sabia que falavam mais pelo susto em me ver do que uma verdadeira sinceridade de palavras saídas das suas bocas, estas a estas alturas já adocicadas pelo uísque tantos anos que se consumia na festa pós casamento. A ira continuava, então fui parar na pista de dança para balançar o esqueleto e me livrar daquelas caras de falsidade que queriam me ver pelas costas. Se tinha fumado maconha duas ou três vezes foi muita; mas o único conhecido gente boa que estava na festa puxa um enrolado da carteira de Malboro vermelho, e fumei na pista de dança com ele. Como nunca tinha fumado, não senti nada, mas o THC começa a fazer efeito, erva venenosa. O DJ sentira o cheiro e bota Titãs com bichos escrotos de cara pra tocar na pista cheia a esta altura. Imagina: casamento cheio de políticos e o DJ lança bichos escrotos, com o meu pai tentando seduzi-los , fazendo seu papel de marqueteiro. A revolta daquele dia de caras viradas desde manhã quando não cogitaram minha presença ali, até ver todos aqueles políticos juntos, e meu pai com eles, adicionado aos Titãs e a maconha, explodi cantando a poderosa música. Meu pai ficou nervoso, e de longe o vi conversando, sobre mim, com o ministro. A conversa não era muito boa pra mim, tipo ele falando ao ministro: “ tenho culpa de ter um filho assim? , e o ministro me olhava e franzia o cenho negativamente para o papo dele, o que me fazia interpretar que a minha empatia era maior do que a do meu pai, na opinião do ministro,ao menos foi o parecer que tive. Ganhei duas vezes neste glorioso dia: Por ir no casório, e de ganhar por empatia do meu próprio pai ,pela primeira vez na vida.

Comentários

Petinha Barreto disse…
Adoro ler suas historias porque sei que são verdadeiras e interessantes.Essa de hoje me transportou para o evento e me fez ver as imagens das pessoas relatada, circulando.
Texto bom é assim,faz a gente acreditar.
Parabéns pelo belo texto.

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