Paloma

 



Paloma, dirigido e roteirizado por Marcelo Gomes, Brasil/2022.

O filme de abertura do XVIII Panorama Internacional Coisa de Cinema, teve um anuncio do Cláudio Marques, curador do festival: “ precisamos abrir o festival com um filme que fale de amor, e por isso Paloma foi o escolhido”. De fato o longa aborda o amor em forma de gente, ou seja, os personagens são amorosos, todavia o tema escolhido nem de longe é só amor: existe também muita dor, preconceito e acima de tudo ignorância, esta fracionada pelos tempos de “ time dividido” em território Brasilis, onde a cultura perdeu de goleada ou de golpeada. O filme aborda, ficcionalmente, um caso real: o de uma mulher trans desejar ter um casamento de vera na igreja católica com o seu companheiro. Neste aspecto a ficção copia a realidade, entretanto a protagonista se forma nas origens características do que o diretor queria, até achar a sua Paloma, e então fazemos a fusão da Paloma que existiu com a que se queria colocar nos planos sequências. Estamos no sertão do Cariri, território do Crato: a protagonista é uma coletora de mamões, onde se fazia por chamar-se de moça e aceita por sua competência na lavoura. Casada, mãe de uma menina, tem um pedreiro que divide o teto, muito bem interpretado pelo ator Ridson Reis, originário do bando de teatro Olodum, e obviamente emocionado por ver seus parentes e amigos na plateia. O casal é aceito até quando não “queimam” o nome da cidade por ter a petulância de escrever uma carta ao Papa pedindo o casamento de véu e grinalda na santa igreja. Quando o fato vem à tona, aí sim vemos como os moldes jesuítas são incisivos e de fato como o sistema social no Brasil é bruto e regrado pelas inquisições religiosas. Tivemos um país sofrido nos últimos quatro anos, onde o ódio batia no amor, e a cultura só continuou existindo pela força maior da arte, esta que direciona a espécie humana. Em janeiro isto acaba de vez, e antes que esqueça, muito obrigado Paloma, Kika Sena, atriz que nunca tinha feito cinema, igualmente a Ridson, pelo presente em que se faz o filme, e agora entendo o porquê do amor se fazer maior neste tocante filme que ganhou como melhor ficção o último festival do Rio.

 


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