Cidade Porto

 



Cidade Porto, dirigido e roteirizado por Bernard Attal, Bahia/2022, em estreia mundial na competitiva nacional do XVIII Panorama Internacional Coisa de Cinema, em Salvador e Cachoeira, de 3 à 9 de novembro.

Pelo fato do festival de cinema de Salvador estar ocorrendo em igual período ao festival de literatura, e este estar homenageando Jorge Amado, não tem como o novo documentário do francês mais soteropolitano da cidade, não se esbarar na obra de Jorge. Peguemos Jubiabá, ou então se preferir Capitães de Areia, ou principalmente Mar Morto: todos estes livros tem como matriz principal o porto de Salvador, onde os personagens vão ganhando pano pra manga, assim como ocorre no documentário: as personagens vão ganhando cara e cor no local descrito como somente porto do Salvador: Porto este o segundo em que mais recebeu cativos africanos, ficando atrás do de Liverpool em todo o período do regime escravagista. Então é um porto já com um passado bem digno de fazer algo cinematográfico nele, todavia o porto de Salvador, além de ter tal passado historiquíssimo, mostra também a sua cara em seu presente , e logo no início do filme já somos presenteados com um alto padrão de bom gosto de animação mostrando-se um suposto posto futurístico, além de também de forma bem didática, mostrar o porquê de existir um porto marítimo em uma cidade, e esta pode, assim como é a nossa Salvador, porém poderia ser em Santos, no Rio ou qualquer outra cidade de grande porte que tenha o mar como um agregador econômico, ou seja, onde se despejam alimentos e mercadorias diversas, e em contrapartida se esvaem ( se vendem ) alimentos e outras diversas mercadorias da região para outras lugares onde não se tem aquilo enviado. A forma narrativa do documentário procura uma comunicação que foge do institucional, caso isso acontecesse seria uma propaganda política e não arte, por isso o cuidado do diretor. Prumando seus personagens, que são os trabalhadores do porto de diversas áreas; cada mostra como está o local em algumas facetas classificadas sempre com verbos em infinitivo; por exemplo: Brincar = onde ouvimos as estórias de infância no plano inclinado do diretor de teatro Fernando Guerreiro.

Vender = quais ainda eram as lojas ou atividades comerciais que insistiam em ficar por lá, tais como fábricas têxteis, o senhor que costurava as bolas de futebol etc. Entretanto o documentário se "prosta" também a dar atenção aos trabalhadores do porto, ou do bairro do comércio, já que o tempo de ter trabalhadores braçais no porto, como estivadores, ainda existem, mas em número reduzido ao comparar com o número de trabalhadores diferentes no bairro. Fala-se da revitalização do comércio. Um dos personagens diz : “ já tem trinta anos que ouço falar disso e nada”. De fato, para quem mora na cidade este papo de revitalização do local acaba sendo uma espécie de lenda por tantos políticos entrarem, prometerem que iria fazer a revitalização. Até o metrô “calça curta’ vingou e até hoje nada de uma revitalização 360 graus na região portuária e do comercio da cidade. Um prefeito entra e faz uma melhoria em tal segmento , outro entra e não faz nada até outro entrar e prometer e não cumprir, aliás é o que mais acontece são prefeitos optarem por não olhar o local e acaba-se ,por tanto tempo, a região estar da forma como se encontra: um local inseguro e não vistos a bons olhos pelos especuladores tanto privados como públicos, já que após a década de 1970, quase todos os órgãos e jurisdições públicas, foram deslocadas para a área alta do Salvador, onde se tem mais olhos a segurança pública e as obras de investimentos públicos, como BRT, metrô etc. Trocando em miúdos: os representantes políticos estão pouco se lixando para o antigo comércio da cidade, com seus costumes e cidadãos, estes que já não conseguem atender as demandas econômicas já que hoje existem outras formas de escoação de produtos e /ou alimentos, e de forma mais rápida, segurando o alimento ou a mercadoria que chegue em bom estado ao lugar destinado. O que o Attal faz é abrir sua câmera e mostrar o quanto aquele abandono continua sendo uma burrice dos prefeitos de Salvador, desde a época de Imbassay até o atual Bruno Reis. O recado que o filme propõe é o de mostrar o porto de Salvador e a região do Comércio como locais que ainda podem ser economicamente viáveis, desde que tenham incentivos públicos como BRT, metrô, e segurança por lá também para então que a revitalização de fato possa se concretizar. Sem dúvidas trata-se de um “filme presente” para a cidade do Salvador ( e isto o filme conseguindo não ser algo institucional ) , e para quem é daqui, como é bom ver nosso sotaque e conhecer mais da estória do lugar que vivemos em tela grande.


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