Trajetória



Trajetória

0/7 – Fase bela, porém estranha. Tinha amigos imaginários. Não gostava de estudar na mesma escola em que minha mãe dava aula de teatro. Não me lembro bem, mas acho que chorava bastante por ter um irmão, meio irmão, que me chamava de “Diogo Farofa Com Ovo!”, o Cendi. Comecei a perceber, bem timidamente, que este meio irmão se parecia mais comigo do que os outros dois integrais irmãos. Seria uma questão genética? Hoje vejo que talvez sim, embora eu e o Cendi sejamos completamente diferentes, mas meio que nossas diferenças se juntavam, sabe? Coisa que não acontece com meus outros dois irmãos. Acho que no fundo me sentia como o Cendi, sem saber, ou seja: me sentia como filho único desde sempre. Gostava muito de jogar bola e ser paparicado por ser bom de bola, começava a rir quando alguém me dizia que era bom de bola. Nessa fase tudo é mágico, e rápido, de modo que a fase, para adquirir bagagem humana é essa, e Freud já alertava. Zico era uma lenda pra mim, porque o assistia pela TV todo domingo com a presença paterna: lógico que linkava a imagem de Zico “Super Héroi”, com a de meu pai idealista leitor dos livros de Marx e fugido (por querer ser fugido) das terra de São Paulo, capital, para enveredar-se primeiro em terras recônvexas baianas, como Santo Amaro da Purificação , Cachoeira e São Félix e após, sob diligência e necessidade de oficio a Salvador de todos os santos, primeiro em Sobradinho e após em agências de propaganda como o mais novo cérebro publicitário batizado como baiano. Era muito novo de modo que ficava olhando aquelas indiretas de “ filhinho de peixe, peixinho é”. Posso até ser um pouco filho da puta,  mas nunca me tornei um publicitário, na real sempre odiei agencia de publicidade. Minhas tristezas mais antigas vem daí, dela, e dos momentos que perdi com meu pai só porque ele tava virando noite pra bolar uma propaganda legal de um sabonete que fazia espuma mais que o outro, e eu embarcava junto com ele, mentindo pra nós mesmos, com aquele puta sabonete era melhor mesmo, as vezes por situações e soluções metafísicas; mas tava junto com ele naquela mentirada toda. O via feliz e era quase automático entender aquela felicidade dele e então me jogar no gozo daquele momento escutado, talvez percebido ou não, mas com certeza, sentido!


7/14 - Não gostava de estudar na mesma escola em que minha mãe dava aula de teatro. Gostava de ouvir músicas no vinil. Gostava de ser o protagonista em uma peça de teatro onde só se tinha primos no elenco e minha mãe era a diretora. Nesse ínterim fiz um bom amigo: meu primo Lucas. Éramos grudados e nos divertíamos bastante, seja na paquera, como em cantarolar as musicas do Renato Russo. Mudei de escola muitas vezes, e sempre indo embora de uma escola porquausa da bolsa que minha mãe conseguia por ser professora da nova escola. Por isto fui meio cigano: não tinha tempo pra fincar raízes ou criar amizades concretas infantis, acho que isso me prejudicou. Você não sabe, Thi, e tampouco a Juju; mas ela foi a primeira menina que brincou de médico comigo, e isto, adicionado a beleza da Juju, me fez ficar um pouco caidinho por ela. Coisa de criança descobrindo novos mundos, imagina: uma namorada paulista seria o máximo! Meu pai se separou da mamãe quando tinha uns 11 anos, e de imediato me senti até bem por não ter de aguentar mais os esporos dele, mas depois ocorreu a depressão. Lembro que comecei a catalogar o número de gols que fazia em cada pelada. Tinha o sonho de ser um Zico,e me incentivaram para isso.


14/21- Não gostava de estudar na mesma escola em que minha mãe dava aula de teatro. Gostava de ouvir músicas no vinil. A minha depressão/síndrome do pânico ocorreu aos 18, 17 anos. Concluí o ensino médio na marra e fui por quarto e fiquei por uns dois anos enclausurados por lá. Tive unhas encravadas e fiz cirurgia à laser. Tinha uma amiga nessa época: A Lú. Uma doméstica, onde só ela conseguia ficar comigo naquela situação de ficar de mal com o mundo 100%. Ela sabia o que era sofrer, pois apanhava do marido e de uma hora pra outra sumiu do mapa. Era uma boa enfermeira pra mim. Acompanhei, sem muito entusiasmo, o tetracampeonato de futebol em 94. Hoje vejo como foi importante ter acompanhado aquela Copa: era a minha geração adolescente vendo pela primeira vez o Brasil ser campeão. Gosto de futebol até hoje. Com 17 anos foi a idade onde conseguia ficar com mais mulheres. Lembro que quando ia a academia, no trajeto beijava umas três ou quatro, e catalogava isso num caderno. Com uns quinze anos comecei a fazer testes em clubes de futebol. Quando ia passar as férias de julho em Sampa, sonhava em ser da base do São Paulo: o time mais europeu da época e bicampeão mundial. De testes mesmo só conseguir passar no Bahia, mas acabei desistindo porque teria que abandonar minha escola particular e ir estudar a noite numa pública, acho que fui um pouco covarde. O surf era minha outra grande paixão. Com 20 e 21 anos fui saindo do quarto, com ajuda de analise lacaniana( a mesma e o mesmo médico de que ainda faço, indo e  voltando desde os 19 anos até hoje), para estudar, até que com 22 entrei na universidade católica do salvador em adm de empresas.

21/28- Este foi o período de faculdade, a primeira que fiz. Meu pai me deu um carro 0km, e com este carro viajava até Queimadas, sertão da Bahia, para namorar uma menina que me escrevia cartas no tempo em que estava trancado no quarto com 18,19 anos. Foi o único namoro ‘sério’ que tive. Traí ela com Marli: e com a Marli acabei conhecendo todos os motéis de Salvador, com meu pai ajudando a pagar meu cartão de crédito. Nunca mais vi Marli: ela também sumiu do mapa. Já a menina de Queimadas, sei onde mora, mas hoje acho que mereço coisa melhor.  De 22 a 28 anos consegui ser mais ativo indo a baladas, mas a questão do namoro sempre foi um desafio desafortunado pra mim, de modo que até ficava com uma ali e outra acolá, mas nunca conseguia namorar serio, já meus irmãos sempre conseguiam e eu ficava muito puto com isto. Hoje vejo que eles tinham o apoio da minha mãe para levá-los em casa e dormir, já eu não conseguia ver tal abertura por parte de minha e por isso nem tentava, resultado? Me tornei um adolescente frequentador da boemia de itapua , onde dançava seresta e me divertia com meus amigos de bairro. Mas todos eram iguais a mim: viam as mulheres como objetos a serem usados, sem sentimentos, mais tarde percebi que tinha caído do cavalo em pensar em mulher desse jeito. Era o único branco do grupo, o resto eram negros. Desculpe, mas errei no tempo. Na boemia de Itapua tinha uns 16 anos. Com 23,24 anos trabalhei na agencia de propaganda do meu pai. Fiquei dois anos e fui despedido e meu pai jogou na minha cara que fui despedido por incapacidade. Veja bem: voltei pra Salvador de são paulo com 30 anos, alguma grana no banco, mas estraçalhado por dentro por não conseguir vencer em Sampa, danos esses que fui percebendo aos poucos, de anos em anos, em doses homeopáticas. Tentei um curso para concursos na área do direito administrativo, porém logo vi que aquilo era grego e não cheirava bem, pra mim. O cinema foi entrando aos poucos, e começou minha persona como consistia antes de crítico de cinema, em 2007, quando morei em São Paulo. Entretanto a carreira só deu pé e tomou corpo mesmo quando me atrevi a escrever sobre filmes e por consequência há convites surgirem para cobrir alguns festivais de cinema do Brasil, o primeiro foi o Olhar de Cinema, em Curitiba, 2014. Meu pai ainda era vivo e ele as vezes falava: “ Vai se resumir a ser contador de história?”. Não falava nada, mas hoje saberia responder: Sim, papai, ser contador de estórias de ficção é legal pra caralho, uma profissão e tanto! Fato é que estou escrevendo até o tempo presente: quero ser, fazer, respirar e cagar cinema por toda a minha vida, pq cinema é uma opção de vida, pra mim, ou até um dever do qual ainda não sei se é trabalho ou diversão: ou até os dois juntos, o que é o mais provável. Quero aqui, emancipar o meu desejo de ser um cidadão pensante e atuante junto ao cinema brasileiro, para que possas dar a minha contribuição artística e intelectual para a formação, sempre esta em desenvolvimento, ou seja, formando-se novos e novos atores/cidadãos capazes de pensar e agir para um Brasil mais tolerável, igualitário e justo, em prol deste mesmo país ser capaz e engenhoso em transpassar seus problemas ideológicos/políticos , e por conseguinte conseguir alcançar um posto de nação admirável para com outros países e chefes de estado, pois afinal das contas o que estamos presenciando é uma besta ambulante disparados seus jatos salivares, todos os dias, com discursos bem pouco inteligentes, e pior, crível com situações surreais que o próprio presidente cria, ou seja, o que não está ruim ele dá um jeito para que fique, e o que já estava ruim, ficar insustentável.

29/36 – Com 29 me mudei pra São Paulo por um ano, indo morar na casa da vóvó em Pinheiros. Quando meu pai me levou tínhamos combinado de morar com ele, mas como sua mulher não quis, tive que morar sozinho, trabalhando na empresa da mulher dele. Quando fui demitido, voltei pra Salvador me apegando ao mar por não me sentir um derrotado de não ter dado certo em Sampa. Voltando a Salvador trabalhei no SUS como digitador de laudos médicos por quase dois anos e fui demitido por a empresa terceirizada acabar. Era um trabalho de ensino médio, mas era um trabalho e este foi meu último emprego que tive, em 2011, ou seja, estou desempregado há 8 anos. Em 2007 , quando mudei pra são Paulo , criei um blog, onde até hoje escrevo sobre cinema. Blog que me rendeu algumas coberturas em festivais de cinema. Pensei comigo: achei um novo emprego, mas as coisas não foram tão boas assim. Ainda hoje aguardo respostas de festivais para viajar, mas que com pouco entusiasmo por saber que é job inrentável, apesar de ser uma paixão, o cinema. Voltei a graduação com letras. Estudei Frances, inglês, italiano e principalmente latim, mas não consegui me aprofundar ( me formar ) em nenhum, ainda estudo e tento achar a minha língua preferida para ter um emprego de professor algum dia. Já quis ser escritor também, mas estou abandonando a ideia por ter outros desejos também: o de ser mais sociável e feliz comigo mesmo. Sempre gostei de mexer meu corpo com exercício físico e tento manter isso pedalando pela orla de salvador, faço yoga também pra ajudar a mente acompanhar o corpo há dois anos.

37/41 – Continuo a tentar a falar inglês: já repeti seis vezes o inglês intermediário. Aos 40 voltei a analise com meu antigo analista que me acompanha por toda vida. Continuo na UFBA estudando letras e desempregado. Esse ano tento entrar numa academia ou voltar a surfar. Decidi fazer um tratamento top em minha boca para ver se minha auto-estima sobe de uma vez por todas. Só fumo maconha,  e acho que o próximo passo é parar com o fumo também, mas sei que hoje, com o processo de partilha, preciso da maconha pra segurar minha onda, mas quero parar de fumar também e quando precisar de algum bem estar , tentarei achar no exercício físico ou na leitura, mas hoje isso ainda está distante pelo delicado momento de partilha que passo. Acho que estou ‘arrumando minha cama’ esse ano, para colher os frutos já ano que vem. Ser positivo é preciso para ser feliz e realizado. Acabei esquecendo em abordar objetivos profissionais de carreira, pois nunca os tive, sinceramente falando. Contudo a independência financeira torna-se , no globalismo capital que vivemos, super necessária para a evolução do espírito também. O que é tangível , portanto o dinheiro, torna-se necessário para uma evolução de espírito, portanto metafísica e abstrata. No que me tange a estes valores, ordinários e extraordinários ao mesmo tempo, tento seguir com uma carreira artística/acadêmica. Ainda este ano quero entrar no mestrado em literatura ou cinema, para que continue fazendo este papel de agente-ator duplo: como editor de conteúdo da sétima arte, assim como, também, como aluno de universidade publica federal. Sobre cinema, acho que não tenho nem como escapar dele. Está tudo nele: fotografia, som, música, dramaturgia , arte, cenografia, maquiagem, figurino; então e enfim: é de poderosa arte que estamos falando: o cinema ! Comecei a cobrir, como crítico de cinema, em 2014 festivais de cinema. De lá pra cá já cobri os festivais de Belo Horinzonte, Brasília ( 2 vezes), Curitiba ( twice ), São Paulo; e este ano quero muito ir no Rio , já em novembro. O cinema me fez descobrir meu Brasil por dentro da tela, principalmente do que vejo dos filmes, e por fora também conhecendo os lugares. Fiz um curta, mas fim de setembro devo trabalhar em cima do roteiro desse curta de modo a transformar em meu primeiro longa. Se cinema vai dar grana? Acho que não, mas vou continuar fazendo de uma forma ou outra ,pois estou dentro da sétima arte e ninguém me tira, nem Bolsonaro!
Ando lendo, me informando no que acontece no Brasil atual e no mundo. Me acho capacitado para qualquer tipo de oficio que use meu cérebro como ferramenta principal para a feitura de outra qualquer coisa que seja. Sou atento e antenado as coisas e pessoas, por/pra mim quase tudo interessa! Vou da literatura ao cinema assim como das áreas administrativas as judiciais com mais alto fervor/admiração/excitação que consigo, pras mim a vida é bela, até no navalhar de um médico és belo, porque o que bonito lhe parece, ruim muito, não deve ser. Tudo me interessa, até nas coisas que não sabias que era de tanto interessante, porque em tudo se produz, também, beleza, além de sofrimento; e é necessário saber dosar estes dois elementos de cargas e poderes iguais. Acabei esquecendo de falar a minha formação: sou administrador de empresas formado e com canudo de 2006. Desde 2013, sou estudante de graduação de letras-língua estrangeira moderna pela Ufba. Mas isso não queira dizer que em todo este período foi letras modernas que mais estudei, na real a que mais estudei é também a mais clássica : o latim. Como já mencionado, quero dar o pulo do gato, da graduação para pós graduação, porem tenho que me informar de como faz isso etc. No mais está aqui um cara que escreve, gosta de ler, de cinema e que quer sair da casa da mãe: então o que mais posso dizer: estamos aí para lavorar , é só chamar!

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