Pendular
Pendular,
da Júlia Murat, RJ, 2017.
O que é jogado,
propositalmente, em tela é um encontro desencontrado entre um casal de artistas.
O cara, um escultor, a moça, uma bailarina e outra cositas mais. Mergulhamos
nessa relação intensa. Porra, pra quem conhece a filmografia da Julia, já
preveríamos que vinha uma fita com uma pegada autoral. No que concerne à
autoridade, a Júlia sempre foi reticente e fiel aos seus admiradores, ou seja,
sempre existiu um “fogo no rabo” da diretora em qual profissão seguir: Artista
plástica ou cineasta? Optou pela segunda opção e esse filme meio que afirma a
sua escolha de profissão. Neste longa, premiado pelo júri da crítica no último
festival de Berlim, temos como roteirista o marido da diretora, Matias Mariani.
Acho que para esse que vos escreve, não resta dúvida que o filme trata-se da
relação da Júlia com o Matias, onde os atores escolhidos a dedo, generosamente
os interpretam. A ficção vem numa Júlia dançarina, talvez ela tivesse esse
desejo, mas só que não, isto é, sua capacidade era, e é ainda, a mental, e não
a corporal. Não sei os desejos do marido da Júlia, se foi um artista plástico
frustrado como sua esposa, mas fato é que ele interpreta um escultor com crise
criativa. Nesse percurso uma gravidez acontece, esta realçada bem nas lentes do
diretor de fotografia. Antes da sessão o corpo do elenco quis falar que o filme,
tão deveras afetivo, não tinha expansão de lugar hoje, no momento atual que vivemos,
com um golpe, segundo eles. O que percebi fora outro golpe: aquele do abismo da
querência de compreender o outro, neste caso : o de marido e mulher. O filme
inicia-se com uma “faixa de gaza”, delimitando o espaço dele e dela em um
balcão propício para as grandes criações do marido, e uma pista de dança pra
ela, escrevemos assim, mas sabemos que o lado dela não era somente isso. Sim, existia
uma faixa literal feita a giz, que dizia: daqui pra lá e seu e daqui pra cá é
meu, e a gente se vê na cama após nossos processos de criações artísticas.
Embora tenham falado que se amam antes da sessão, a impressão que tive do filme
é que o casamento é um acordo ou contrato fadado a falir; uns duram mais,
outros menos e outros, por conveniência, e jamais por prazer, duram a vida
toda, assim como existe uma felicidade eterna. O filme instiga uma relação a
dois, porém também alerta que por mais que tenhas um amor, a carga existencial
é sempre única, mas ok: vale o risco de viver a dois, porém que para isso
aconteça é necessário uma maturidade para deixar que o outro ultrapasse o giz
da barreira e sinta-se confortável na zona de conforto do outro.
Filme visto na terceira noite
do Festival de Brasília.
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