Pixote: A Lei Do Mais Fraco
Pixote: A
Lei Do Mais Fraco, de Hector Babenco, Brasil, 1980. Aqui está o embrião do que
viria a ser anos mais tarde o filme mais conhecido do diretor
argentino-brasileiro: Carandiru. Adaptação da obra literária do médico e
escritor global Dráuzio Varela. Começando do fim ao início temos a cena antológica
de Pixote mamando uma das tetas da Sueli; uma prostituta pseudo cúmplice de Pixote e seu
bando. Sueli passava pela fase de depressão pós parto, e Pixote ,por sua vez,
nunca tivera esta ou alguma vez para ter alguém em chamar de mamãe. Alias teve
sim, mas por pouquíssimo tempo, já que fora abandonado pela própria e entregue
a Febem. E o filme inicia-se na Febem. Imagino como foi preparar estes não
atores mirins ou pré-adolescentes, já que na época não existia um preparador de
elenco, ou seja, o próprio estupendo Babenco é que fez o laboratório com Pixote
e a meninada, fato este que o entristeceu ainda mais quando soube que o ator
que interpretava o Pixote tinha dado cabo da sua própria vida, e esta não diferente
da sua personagem. Como já mencionado a obra fílmica se dá start na Febem, e
após muitas sacanagens de quem mandava os pivetes fogem para não morrerem naquele
pardieiro. A locação “Febem” pega se não uns quarenta minutos, ou mais em um
filme de duas horas e pouco. Por ter tanta “ Febem” no filme, acabamos em
adentrar no mundo de cada moleque preso, estes que literalmente estavam jogados
aos leões ou aos homenzarrões. Nas ruas e livres os fugitivos sobreviventes
fazem o que sabem que é roubar transeuntes. Nestas cenas vemos a ousadia de
Babenco filmando os pseudo assaltos em ruas não fechadas para as gravações, ou
seja, isso dá um certo frescor, de modo que as cenas se tornam mais reais em
comparação das cenas de assalto dos filmes e séries atuais; hoje tudo é muito certinho
e jamais vemos figurantes tão reais como os quais encontramos nestas cenas de
ruas neste marco que é o filme do Babenco. Após alguns assaltos e contatos
Pixote e sua trupe se manda para o Rio para bronzear o corpo e agitar as coisas
por lá. No Rio o restante da narrativa se desenvolve e também acaba por lá, e
então vemos quanto à vida pode ser cruel a quem já tem um carma só seu para
carregar. Para finalizar tenho duas ressalvas apenas. Primeiro: o filme deveria
chamar-se Pixote: A Lei Do Mais Forte, pois isso é que ele é, sem tirar nem
pôr. A segunda ressalva é de cunho mais da narrativa empregada à obra, narrativa
esta que pode ser considerada a original falando-se de filmes com menores
infratores, e copiada por outros filmes após, inclusive colocando no balaio
Cidade De Deus, do Fernando Meirelles, filme este que esse critico considera
como um dos melhores brasileiros de todos os tempos e gêneros. Entretanto se
tratando do recém-falecido Hector Babenco, este fora a sua obra prima número
hum: Pixote, um soco no estômago esplendido de filme; não a toa que dizem, ou
melhor, diziam que o melhor cineasta brasileiro é ou era um argentino; e quem
dizia e diz isso estava, e está, redondamente certíssimo: O Babenco era o melhor dos melhores.
Comentários