Histórias que só existem quando lembradas

Histórias que só existem quando lembradas, de Júlia Murrat, 2011, Brasil. Trata-se de um filme profundo e simples ao mesmo tempo. Quando uma fotógrafa na faixa dos seus vinte e poucos, aparece em uma cidadezinha em que, aparentemente, nada tinha há oferecer e ela ainda assim fica na cidade, a partir daí é que surge a magia do filme, pois o seu enredo se concretiza justamente na secura dos seus personagens, aliais secura não, na simplicidade deles. O filme brinca com temas tabus como morte, velhice assim como crianças brincam com bolas de gude, alias não se vê crianças em todo o filme. A cidade era formada por senhores e senhoras que já passavam dos seus sessentinhas naquele sossego interiorano. Como personagens centrais na trama poética e existencialista da diretora Júlia Murrat ( esta que teve um passado pra lá de turbulado com a ditadura militar, com “direito” a ser torturada e tudo mais, porém isso já é outra história..), além da fotógrafa tínhamos uma senhora, impecavelmente interpretada pela Sônia Guedes, que tinha morava em uma casa grande e tinha uma mercearia que dividia com um outro senhor solitário. Há esse senhor a incumbência era de fazer o café. A senhora era responsável pela feitura do pão da vila e o devido colocamento na prateleira da mercearia. Talvez a cena dessa senhora colocando a pão feito por ela na prateleira e o senhor por sua vez tirando o pão e recolocando no cesto e chamando a senhora de “ velha teimosa” alegando que aquele trabalho era o dele, pois o dela era de só fazer o pão, talvez essa cotidiana cena mostre a alma do filme por tocar nos temas da velhice ( como o esquecimento e teimosia ), e da rotina, ou seja, de fazer todo dia a mesma coisa. Rotina ou cotidiano que para muito de menos idade pode ser um martírio, para os mais velhos, ao menos para esses do filme, era visto como sabedoria e calmaria. O filme ainda nos permite prosearmos com ele no sentido de darmos valor as coisas mais simples como um toque humano ou uma palavra valham bem mais que uma coisa que tenha valor como um carro ou uma casa, por exemplo. Modestamente acho que a Júlia estava muito expirada e iluminada quando resolveu tocar o projeto desse filme que poucos viram por ser tratar de uma produção independente. O filme mete o seu dedão na nossa cara e pergunta: “ Você está correndo pra quê, vale a pena, está correndo na direção certa, acho que não”. Alguns filmes são feitos para serem vistos e não resenhados e este é um deles, então: Boa sessão, certamente ganhará seu dia com essa tocante produção.

Comentários

RitaKBarreto disse…
Bem interessante, não só por ter uma protagonista fotógrafa, mas, pela historia em si. Parabéns pelos comentários!

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