Trampolim do forte

Trampolim do forte, de João Rodrigo Mattos, Brasil- Alemanha, 2010. Em suma trata-se de um filme que conta ou narra uma certa fase em que todos já passamos: a infância, e como esta é marcante. Freud, o pai da psicanálise afirma que as lembranças mais importantes de uma pessoa acontecem até aos sete anos de idade. Após isso todas as ações que fazemos acontecem em prol dessas memórias e assim nos tornamos as pessoas que somos adultas, ou não, hoje. Em especial no filme essa infância é contata de uma forma sufocante e muitas vezes angustiante por se tratar de meninos e meninas negras e de baixa renda ambientada na cidade de Salvador, na Bahia de todos os santos. Orixás estes que se esquecem desses pequenos indivíduos e as ruas e a vida soteropolitana os acolhem como consegue, ou seja, de uma forma dura. Temos como fios condutores dessa cativante e comovente história dois amigos. Um sai de casa porque sua mãe inesperadamente some e ele não quer ficar com o padrasto bêbado. E o outro, que tinha o apelido de Feliz e vendia picolé acaba por sair de casa por não concordar em dar seu dinheiro suado para uma igreja evangélica, assim como fazia sua mãe. Os dois então resolvem morar e dormir nas ruas para fugir das famílias. Acabam se envolvendo em furtos e “más-companhias”, mas esta era a regra da rua, da vida de quem quer ser dono de seu próprio nariz e isso não importando a idade que tivessem. Se a urgência pedia para que eles se mandassem de suas casas ainda crianças era porque o destino o quis assim, e, portanto os garotos ficaram “cascudos” antes do devido, mas quem somos nós para julgarmos o que é “certo” ou o que é “errado” nessa sociedade esquizofrênica que vivemos, não é mesmo? Fora a dureza da rua crua existia um misterioso molestador de crianças apelidado por: “Tadeu, o rei das crianças”, que era tipo uma lenda, como se fosse uma caipora na floresta ou um Saci-Pererê. Mas, entretanto esse “saci” de fato existiu em Salvador nas décadas de 1990 (quem morou aqui nesse tempo conheceu a fama do “rei das crianças” ). Anos se passaram e nada nem ninguém conseguia botar as mãos no Tadeu, ela estuprava as crianças e ninguém pegava. Esse personagem real, o Tadeu, entra na história do filme do diretor soteropolitano, e com requintes de crueldade. E numa dessas molestadas do Tadeu um dos pivetes vinga toda a sua geração que fora aterrorizada por esse desgraçado, que era na verdade um pastor, fato este que mexera na população soteropolitana na década de 1990. Todavia escrevendo de qualidade de filme podemos tecer que trata-se de uma obra que nos conquista por sua falta de expectativas daqueles garotos jogados a sorte de uma metrópole provinciana , mas que apesar de tudo não perdiam as esperanças de um futuro melhor, transformando as suas realidades tristes em ficções alegres quando tais garotos pulavam do trampolim do forte do bairro da belíssima Barra. Como força para o cenário do cinema baiano atual, Trampolim do forte serve como um acalanto para que se façam mais longas metragens com bons patrocínios na capital baiana. Tal filme poderia servir como um trampolim literal para que o cinema fosse mais acreditado ou valorizado nesta cidade que não se cansa de enganar sua população com diversões que facilitam o menor esforço para um raciocínio mais elaborado, deixando de criar assim cidadãos mais críticos da situação caótica cultural da nossa cidade.

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