A criança ( L`Enfant )

A criança ( L`Enfant ), com direção dupla dos irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, França, Bélgica, 2004. O filme foi palma de ouro em Cannes neste mesmo ano, e com mérito, escreva-se de passagem. Difícil fazer um paralelo entre os adolescentes europeus com os sul-americanos, todavia o filme nos instiga a fazer isso, ou seja, ver uma realidade de jovens europeus e na medida do possível perpassar para nossos trópicos. A história começa com uma garota de dezoito anos saindo da maternidade com seu recém-nascido bebe de sexo masculino. Tal garota procurara o pai da criança, que na hora do parto,“partiu”. O pai era um garoto da mesma idade que vivia de pequenos furtos. Comandava uma mini-quadrilha, onde aliciava garotos de onze, doze anos para praticar pequenos furtos. O rapaz recebe a visita da namorada com a criança de colo e a garota avisa-o que tratava-se de seu filho aquele bebe. Não sei se para se safar ou para simplesmente mentir para ele mesmo, o rapaz revoltado, no seu intimo, não acredita que o bebe era seu filho, mas não diz nada a namorada, alias diz que ficou feliz em revê-la e ainda mais contente pela criança. De fato o rapaz gostava da garota, mas não esperava ser pai tão cedo. De qualquer sorte os dois voltam a ficarem juntos, apesar de o carinha ter alugado o apartamento da namorada para descolar uma grana extra, pois os furtos estavam difíceis de rolar. Quando escrevi no inicio que tentaria, por livre e espontânea tentativa mesmo, fazer uma suposta comparação entre jovens europeus aos brasileiros, de fato achei que pudesse, mas hoje já sei que isso é impossível, e explicarei o por quê. Seguinte: na Europa quando se adota uma criança em cartório o governo daquele país dão, uns mais outros menos, uma receita para pais jovens e desempregados ampararem seus recém-nascidos, de modo que com essa grana esses pais jovens não necessariamente precisam trabalhar, pois o estado já dava uma bela grana somente pelo fato de ser pai. Aqui no Brasil a realidade é completamente diferente da de lá ou do filme europeu. Entretanto sem perder a conexão com nosso filme, voltemos a ele após essa tentativa torpe de comparação das políticas de estado ou consciência do que governantes deveriam fazer e não fazem , mesmo estes se autointitulando como socialistas ou com slogans do tipo: “Brasil : um país rico é um país sem pobreza”. Mas voltemos a em definitivo a película, pois bem: Por esse incentivo governamental o casal de jovens vai ao cartório mais próximo para registrar a criança e assim receber as regalias as que tinham por direito de pai e mãe. Todavia como lhe diz o ditado que dinheiro não consegue se plantar, é preciso trabalhar para tê-lo, que no caso do jovem era furtar. Em resumo, para o pai da criança o dinheiro que o estado lhe dava era pouco ainda para viver, o rapaz então resolve bolar um esquema genial onde ganharia uma boa bolada e ainda por cima se livraria daquela criança chorona que tinha roubado sua namorada, e ainda por cima nem poderia ser dele. O rapaz não tem duvida e resolve vender a criança para uma quadrilha envolvida com trafego de menores. O seu primeiro problema fora o fato de não ter comunicado a sua namorada esta decisão da venda do bebe, coisa que obviamente a deixara puta da vida e chamasse a policia para ter seu bebe de volta. O rapaz percebe a cagada que acabara de fazer e volta para buscar o bebe. Ele até que consegue pegá-lo de volta, porém agora estava defendo a quadrilha que o comprou. Sem muitas escolhas o jovem pai volta ao seu oficio de furtos de bolsas e paletós, e em uns “furtos desses”, seu comparsa é pego, mas ele não. Não sei se por motivo de amadurecimento em “cair à ficha” que era pai ou pela amizade com seu comparsa de treze anos, mas o garoto vai a delegacia e se entrega a policia e esta libera o outro menor infrator. Quem ganha uma palma de ouro em Cannes nunca ganha por acaso ( quero acreditar nisso ). A criança é portanto um filme corajoso, de descobertas, de amadurecimentos dolorosos, de transições ( de criança para adulto por um acontecimento inesperado ), mas sobretudo de amor, mesmo esse sendo opaco, nebuloso ou duvidoso, mas sem dúvidas fala-se e cria-se em tela um sentimento maior que todas as dificuldades citadas. Um filmaço, e por isso um merecido palma de ouro em Cannes.

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