Tocaia no Asfalto

Tocaia no Asfalto, dirigido por Roberto Pires e produzido por Glauber Rocha, Brasil- Bahia, 1962. Foi um mega prazer rever imagens de minha terra natal, Salvador, nos anos 1960. Pude conferir essa relíquia do cinema nacional no Panorama Internacional Coisa de Cinema, realizado entre os dias 31 de outubro a 7 de novembro no Cine Glauber Rocha em Salvador e Cachoeira. No filme podemos ver como a capital soteropolitana juntamente com sua urbanização após meio século, mudou tanto. Em 1960 tudo era praticamente mato virgem. Se você quisesse pegar um solzinho na orla marítima, era simplesmente estacionar sua carranga na grama verdinha e pouco cuidada mais próxima possível da areia da praia em todo litoral da cidade e já estaria tomando um banho de mar. Não existia ainda a orla marítima na cidade com asfalto, parapeitos ou calçadões, o que se via somente nas estradas que davam acesso as praias eram terras de barro batido e muita floresta tropical atlântica sem ainda ser desbravada, e por isso linda por ser ainda intocável pelo homem( bem diferente do cenário atual onde cada vez mais prédios gigantescos são construídos a beira-mar sob o importante apoio do novo PDDU ( plano de diretrizes do desenvolvimento urbano )da cidade assinado e iniciado pelo ex-prefeito João Henrique e continuado exponencial e rapidamente pelo atual ACM Neto ( por pactos com empresários do setor ajuda de nossos vereadores ). O filme ainda nos remete a lugares que de “olhos fechados” vemos como mudaram também, como por exemplo, o Solar do Unhão e sua escultura a beira daquelas águas marítimas calmas sem antes mesmo da existência das comunidades das Gamboas: de cima e de baixo numa cidade baixa bem provinciana. Roberto Pires nos leva a vê o outro lado da cidade na ponta do Humaitá com seu farol descascado, mas elegante e nos finaliza com um presente especial: o farol da Barra, um lugar que na época só existia o próprio e mato pra tudo que é lado, sem sequer um único e mísero prédio, seja este grande ou pequeno, ou seja, a cidade do Salvador há 50 anos era mato puro e de certa forma ou sem uma forma de prédios e estabelecimentos comerciais colossais , mais bonita de se apreciar a olhos nus. Entretanto deixando a aula de história arquitetônica que o filme preto e branco nos dá ( esqueci do Pelourinho: de todos os locais rodados foi o que mais continuou parecido com o atual, mas óbvio que não idêntica suas ruas e estabelecimentos bem menores do que hoje, mas ainda com o mesmo piso de pedras atuais ). Entretanto vamos a trama do filme em si, porém sem antes parabenizar um dos pioneiros do cinema nacional e baiano: o falecido visionário diretor Roberto Pires. Mas vamos a obra prima de imagens e ousadia para a época que foi Tocaia no Asfalto. O filme é permeado e tem como objetivo principal o poder e a política ( alias coisa nada diferente para com os nossos atuais governantes, por isso o filme se torna atualíssimo nesse sentido) , onde um coronel e político do interior do estado contrata um matador de aluguel para fazer o serviço em um político da capital da oposição de seu partido. O cabra chega de um lugar bem miserável do interior do Sergipe mol dele fazer o que pediram pra ele fazer, ganhar seu troco e sumir das redondezas por um bom tempo. Só que quando tal cabra matador de aluguel chega a Salvador e se hospeda em um bordel no “Pelô”, acaba louca e ardentemente apaixonado por uma linda “mulher da vida.”. Com isso ele repensa a idéia de matar tal político poderoso da capital e fugir com sua namorada para o mais longe dali possível. Mas quando um cabra da peste só o que sabe fazer na vida é matar gente, o prazer de matar fala mais alto do que tudo, até que dinheiro. Então não teve jeito, o matador cumpriu sua missão, pois seu sangue e suas memórias não deixariam em hipótese alguma aquilo em que deu sua palavra e honra para executar ou fazer. O filme nos mostra como o cinema ( não só o nacional, mas a sétima arte mundial ) evoluiu aos longos desses 50 anos, tanto em tecnologias, mas também em idéias e roteiros.

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