L´homme qui rit

O homem que ri (L´homme qui rit), de Jean-Pierre Améris, França, 2013; É incrivelmente atual em nosso cenário de protestos políticos e no decorrer da critica explicarei o porquê. Baseada e adaptada da obra literária homônima do escritor francês Victor Hugo, o mesmo da obra os Miseráveis. O filme conta a estória de um garoto que por dívidas morais do seu pai para com o rei francês do século XVII, é colocado como “troca de mercadoria” a fim de humilhar o sujeito, que era seu pai, o qual insistia em ser rebelde e não obedecer a ordens monárquicas. A troca fora: “ Eu pego seu filho e dou pra outra família só pra mostrar quem manda e você fica fudido sem nada”, diz o rei. E o pai anárquico não tem muito que fazer após isso a não ser tirar cabo de sua vida, e assim o faz. O garoto é entregue a um médicuzinho insano que faz uma cicatriz em sua face do garoto para ter laços eternos com ele. A cicatriz consistia em dois cortes fundos em cada bochecha até os lábios, de modo que parecia que a criança estava sempre sorrindo, daí o titulo do livro e posterior e adaptavelmente na medida do possível nome ao filme: O homem que ri. Ainda criança a criatura bestificada aos auxílios do bisturi médico é abandonada pelo seu “criador-pai adotivo” deixando o garoto com frio e fome em uma tempestade. Fato este da miséria ser um contínuo na obra de Victor Hugo e que sempre nos incomoda pelos detalhes em que descreve pela falta de humanidade dos homens. Abandonado ao “Deus dará” e com a promessa do seu pai adotivo de que voltaria para um dia pegá-lo o garoto acaba por conhecer um outro pai adotivo interpretado pelo sempre excelente Gérard Depardieu. O sujeito era um tipo de meio mágico meio curandeiro nômade que estava passando pela região fria e pobre onde o garoto fora abandonado. O curandeiro vê o garoto vagando sujo, doente e percebe a sua bestialidade facial, porém ainda assim por generosidade humana concede a ele abrigo em seu modesto Trailer. Veículo-casa este que além do curandeiro já era habitado por uma menina linda e cega que também fora adotada pelo nômade de coração do tamanho de seu corpanzil, ou seja, grande. Eis que um dia por pura coincidência do destino o garoto abre o velcro que escondia seu rosto em plena apresentação circense do seu novo pai e desse dia em diante acaba sendo a atração principal dos espetáculos  O riso que ele tinha na face era motivo de piada devido a sua bestialidade mas também era um símbolo para aquele povo pobre que não tinha e nem conseguia sorrir por terem vidas tão miseráveis. De certo modo seu sucesso se atribuía a esses dois fatores: a surpresa e a identificação que as pessoas tinham com a cicatriz, pois cada indivíduo senão por fora, mais por dentro carrega cicatrizes tão feias ou mais que a do garoto. E o garoto bestial acaba crescendo assim como sua irmã cega. Sempre juntos os laços “parentais” acabam por sucumbir pela puberdade. O sucesso das apresentações com a criatura que vive rindo continua ao longo dos tempos e se torna ainda maior quando uma nobre, por um olhar avassalador dele, se apaixona pelo homem fascinante e bestial. Ela fala:” O que mais me atraí em você é que somos iguais, ou seja, por dentro sou a mesma coisa que você é por fora”. O homem que ri acaba sucumbindo aos encantos e aos cheiros de perfume de mulher nobre traindo sua ex-irmã de amor puro. Pura talvez ela tenha sido por ser cega e por isso não se contaminava com os excessos mundanos e humanos. Fato é que o Homem que ri acaba virando um nobre e deixa de ser um nômade miserável que era, apesar de ser amado pelo seu empresário-pai e sua namorada cegueta. Com a nomeação de nobre agora ele podia falar e representar seu povo e quando o mesmo se adentra no senado com o rosto devidamente coberto e vê a rainha do alto não perde tempo e descobre seu rosto multifacetado. Ação esta que desemboca uma série de risos e chacotas dos parlamentares chamado-o de palhaço e aberação. Por sua vez rapidamente ele dá a resposta se pronunciando: “ Essa cara que vocês riem e chacotam tanto é a cara desse povo miserável que vocês não tratam e fazem vistas grossas. Sou a representação desse povo que precisa ser mais respeitado. Assim como meu rosto esse povo é mutilado por vocês todos os dias e novas leis têm de ser estabelecidas e eu com o poder de nobre parlamentar agora exijo essas mudanças”. No filme não fica claro se tais mudanças de fato aconteçam, porém claro fica que o discurso ao menos mexe nos brios da rainha  Pois bem, e é exatamente isso que se sucede em nosso país hoje com a onda de protestos contra a corrupção e outras reivindicações. Parar com os protestos? Jamais! A hora da mudança é agora e só depende de nós para termos orgulho da nossa nação algum dia que seja.

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