Um sábado inesquecível
Com
a puberdade vêm as descobertas, às vezes boas e às vezes nem tanto. A estória
que tenho hoje se encaixa nas nem tão boas assim, pois bem vamos a ela então.
Tinha esse em vos escreve uns 16 ou 17 anos de idade, era um puta atleta já
despontando como uma promessa no ramo futebolístico, mas especificamente no
ramo de colocar a gorduchinha na rede, ou seja, como dizem aqui pelos lados do
norte brasileiro: um brocador nato ou centroavante oportunista. Os babas (
peladas ou partidas de futebol ) com os garotos de minha idade já não era
suficiente, estava além de meus colegas de idade em sentido de categoria
futebolística e sempre dava uma maior confusão quando se era para escolher os
times, sempre eu sendo disputado por vezes a tapas pelos capitães das equipes. Na
medida que fui me alongando ou crescendo, fui me tornando cada vez mais veloz e
habilidoso, modesta parte, visto que chutava com as duas pernas e cabeceava bem.
Os babas dos amigos já não eram suficientes tanto pelo teor técnico ( ou falta
dele ), quanto pela frequência. Era um garoto fominha de baba, de modo que fui a
cada dia entrando em todos os torneios e babas do meu bairro, com caras bem
maiores e mais fortes; a chamada turma da maconha. Pois bem, tornei-me a ser o
caçula desse novo bando e continuando a bater um bolão. As amizades começaram a
acontecer naturalmente, porém sempre tem alguém que não vai com sua cara, ora
por inveja, ora por incompatibilidade mesmo. Tive o azar de pegar uma inimizade
com um dos mais fortes integrantes da turma da maconha, e para azar dele em
todos os babas de finais de tardes diários, ganhava na corrida pra ele ou dava
um drible desconcertante no brutamontes. Eis que um dia me dei mal por pura
força do destino. Estava eu na rua correndo ou fazendo algo como sempre quando
ouço tambores rugirem a um raio de 2 km mais ou menos. Soube através de amigos
que estava rolando um ensaio de uma banda cover do Olodum no bairro vizinho. Esse
ensaio já era famoso na época, de modo que juntava muita gatinha nesses
encontros. Tinha uma paquera por aquelas bandas e estava louco para chegar por
lá e estampar minha cara dando um alô. Eis que me surge um camarada da turma da
maconha super bêbado ou mamado com uma bike linda e nova. Sem pedir nada ele me
oferece a bike para eu dar um pulo no ensaio. Achei estranho , mas como estava
muito afim de ir lá, aceitei o presente que viria a ser de grego mais tarde.
Pois bem, com a certeza de que encontraria minha paquera e outros amigos no
ensaio pedalei mais rápido do que o habitual de modo que chegara por lá em
menos de 10 minutos. Quando cheguei vi aquele mar de gente se esfregando ao
redor de repiques, tambores, caixas e surdos. Fiquei na bike vendo aquela coisa
toda e procurando algum conhecido ou até minha paquera que por azar não deu as
caras no dia. De repente o tal brutamontes que tomava dribles de mim aparece em
minha frente totalmente mamado e com cara de quem quer brigar no meio daquela barulheira
insana com cheiro de peido pra tudo que é lugar. Sem mais nem menos o
desgraçado fala: “Essa bike é minha seu ladrão!”, e se joga contra mim
derrubando-me no chão com bike e tudo e já me dando uma chave de braço na
queda. O cara realmente sabia brigar, depois fui saber que era faixa preta de jiu-jítsu
e capoeirista. Com o passar do tempo do enforcamento fui ficando roxo (ao menos
era isso que ouvi falarem, a essa altura um grande amontoado de gente para ver
o que estava acontecendo). Os amigos dele falavam: “Solta o cara, não está
vendo que ele vai apagar, pare de enforcar ele porra!”. Sem exagero, mas depois
de uns dez minutos imobilizado naquela situação com um puta bafo de cachaça a
aturar além da desconfortável chave de braço, os amigos do cara conseguiram
tirá-lo do chão em cima de mim e dizendo : “Diogo, pega a porra da bike e se
pique porque ele quer te matar e não vamos conseguir segurar ele por muito
tempo”. Sem ainda entender nada do ocorrido e por puro instinto da puberdade e
de antes de tudo sobrevivência. Peguei a desgraçada da bike e voltei ao meu
bairro entregando ao outro bêbado que tinha me dado: “Porra cara, pensei que a
bike era sua, o dono quase me matou caralho!” o falei. O bêbado cara responde: “puta
que pariu Diogo, não sabia que ele estava por lá, me desculpe, por favor,”.
Como o cara era faixa preta de judô tive que o desculpar e voltar pra casa com
o rabo entre as pernas ainda sem ter entendido o que tinha acontecido naquela fatídica
e inesquecível tarde de um sábado. Depois do ocorrido ainda voltei a pegar uns
babas com a turma da maconha, porém logo percebi que não existia mais um clima
viável para continuar a dar meus dribles e fazer meus gols com a galera,
abandonando o baba e de certa forma a minha vontade de ser um jogador de
futebol.
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