Ilha das flores

Ilha das flores, do feliz Jorge Furtado,1989, RS,  é uma fita inteligentíssima. Trata-se de um curta que de uma maneira bem gauchescamente mostra um ciclo de uma unidade de tomate, ou seja, da onde ele veio e depois de algumas idas e vindas onde ele acaba. Nesse percurso que é curto, é que se torna interessante o curta pelas pitadas de um pouco de tudo: desde o porquê as pessoas plantam tomates (para se alimentar, óbvio), até chegar à sua conclusão, implicação ou protesto que a película aborda de uma maneira bem bolada mostrando que em certos casos os humanos, seres evoluídos, podem ficar em piores situações do que simples animais, como porcos por exemplo. A forma em que o filme explica esse despautério da fome no Brasil é que achei genial, pois o roteirista, diretor e produtor coloca explicações intermediárias até chegar a essa teoria da fome que beira a genialidade pelo motivo de explicar coisas como: desde a origem do dinheiro, até como ele foi produzido e é passado de mãos em mãos, como também a superioridade que o homem tem em ser um humano que tem cérebro avançado e polegares firmes capazes de tudo que criamos neste planeta, e não temos a capacidade de repartir o que produzimos aqui. O curta finaliza com teorias sobre liberdade onde todo homem sabe o que é, mas nem todos são de fato livres. Fora à narrativa do ator Paulo José fazendo um monólogo simplesmente cativante , informante com até direito a teoria de como é formado o tempo, no caso o segundo do minuto da hora, linkando esse com o gás Hélio e com o inicial tomate da película que no final acha-se como comida desprezível ao animal porco e aprazível ao homem com cérebro evoluído e dedos polares firmes capazes de criar tudo, menos a consiência. Narrativa esta do Paulo José de uma forma aprazivelmente gaúcha. Um curta com mais de duas décadas, mas que se torna atual e de um vigor e qualidade em criação que no Brasil teria mesmo que ter saído da melhor escola de cinema do país: A dos Pampas.    

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