Bob

Bob, um americano de vinte e poucos anos, de saco cheio com a industrialização latente dos EUA no ano de 75, veio ver um tio-avô no Brasil nessa época. Tinha acabado o colegial, trabalhava em uma indústria o dia todo e achava que estava sendo explorado pelo dinheiro que ganhava, apesar de receber em dólar no final do mês. Então resolveu criar problemas nas ruas do seu bairro em San Diego, CA para ver se conseguia passar uns tempos no Brasil com o tal tio-avô.
Bob chegou à Bahia em um carnaval e ficou encantado com o desprendimento capitalista e muitas vezes tribal naquela década do povo soteropolitano. Tudo que sonhava em relação à liberdade, ele tinha encontrado na Bahia. Nesse carnaval da chegada, ele como tinha o hábito de beber bem depois das suas jornadas incessantes de trabalho na Califórnia, começou a beber aos olhos dele “normalmente”, mas aos olhos dos baianos demais. Uns conhecidos que fez amizade quando chegou, logo quiseram acompanhá-lo na bebida, achando que iria achar mais um gringo sem resistência ao álcool. Ledo engano, no decorrer dos dias de folia, um a um foi caindo nas ruas de Salvador por bebedeira, de modo, que Bob via aquilo e ria deles, ajudando-os a levantar.
Sim, o Bob era um camarada gente boa, sempre disposto a curtir a vida e conhecer lugares inusitados. No último dia de folia, onde nessa época os abadás e grandes indústrias carnavalescas não existiam, e o carnaval era muito mais popular, Bob conhece uma morena de parar o trânsito. Uma cabocla de olhos castanhos e cabelos encaracolados, como dizia a música de Caetano que já na época fazia grande sucesso. Sim, antes de vir à Bahia, Bob já conhecia de cor e salteado todas as grandes músicas dos principais artistas da época do Brasil.
Depois de algumas cervejas pagas, Bob consegue levar a morena ao apartamento do seu tio, que estava viajando. Na primeira transa a morena faceira e gostosa fica grávida. Bob se revolta com ela, mas acaba ligando para sua mãe nos EUA, falando do ocorrido, que agora seria pai e ficaria bem mais difícil sair do Brasil. A Mãe que já queria que ele não voltasse pra lá, dá os parabéns a Bob e diz que quando nascer o neto brasileiro viria visitá-lo com um amor que só avó poderia dar.
Agora os planos seriam outros, teria que aprender o idioma da terra e arrumar um emprego. Foram longos três anos só estudando o complicado português com a ajuda da mesada que recebera da mãe.
Depois que conseguira dominar a língua, ou melhor, o idioma do país, Bob resolve dar aulas de inglês para nativos. Encanta-se por astrologia, Ioga, Óvnis. Tem outro filho com outra nativa de parar uma avenida toda.
Hoje Bob é um cinquentão, morador de um bairro nobre de Salvador, continua dando aulas pra sobreviver, mora com as filhas, que são uma mistura das duas etnias, e ainda é estudioso de astrologia, mas parou com os Óvnis, depois que parou de tomar cogumelos nos anos setenta.

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