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Big Jato

Big Jato , de Cláudio Assis, Brasil, 2016. Os mais céticos poderiam dizer que “poesia de cú é rola”, mas não é bem por aí e o filme mostra bem o porquê. A obra é uma adaptação do livro homônimo do jornalista Chico Sá. Posso até me adiantar e afirmar que o protagonismo desta obra não é um só, mas sim uma família. O ator paulistano talentoso Matheus Nachtergaele faz dois papeis antagônicos e profundos que dão o tom sarcástico que a trama necessita. Ele se vira no pai de família que é dono de alguns filhos ( três ), e tem um caminhão que limpa a fossa das casas da cidade de Peixe da Pedra que ainda não tinham um vaso sanitário, a sua vasta maioria no sertão nordestino. Caminhão esse que tem o nome do filme: o super big Jato que vem para limpar as literais cagadas dos moradores do simpático nome do município de Peixe das Pedra. E ainda o Matheus faz o papel do irmão desse cara limpador das fossas alheias: um radialista anárquico que encantava e encorajava as pessoas que queriam sair do lu...

Desajustados ( Fúsi )

Desajustados ( Fúsi ) , de Dagur Kari, Islândia/Dinamarca, 2016. Se pensas que és o único lado ruim da laranja, adveja que existem outras tantas laranjas, das quais podem existir lados podres também, e juntando com o outro lado sem gosto, ou com gosto duvidoso, aí sim podes fazer uma laranjada, e quem quiser que a tome, aí já é problema de quem se propôs a experimentar o refresco. Através dessa metáfora podemos apresentar um pouco o nosso protagonista: um sujeito gordo que trabalhava como empacotador de bagagem em um aeroporto e sofria bullying dos seus colegas de trabalho quase que diariamente. O rapaz, quer dizer, nem tão rapaz assim, já que estava com quarenta anos e vivia na casa da mãe ainda; todavia este sujeito, certa vez, pega sua mãe de quatro com seu namorado na área de serviço e toma um certo susto com o que vê, mas o que ele esperava, já o bastava como virgem na estória, não? Com tais características esse cara ganha umas aulas grátis de dança country por parte do seu “sogr...

Passos( Kroki )

Passos (Kroki), de Karolina Zaleszczuk, Polônia, 2015. Por vezes um empurrão na vida pode ser deveras exagerado e consequentemente desastroso. O que acontece nesta obra polonesa é mais ou menos isso, mas vamos aos fatos, pois com eles meus argumentos serão desnecessários, ou não. Crítico de cinema (deve) ser frio como Varsóvia, a capital da Polônia. Eu, particularmente não consigo. Para rolar o tesão em escrever tenho que ter uma brecha emocional naquilo que me proponho a escrever, e por isso me envolvo com todos os meus textos. Se quiser um texto “racional” , que procure outro lugar, pois aqui neste as coisas são dilatantes e viscerais, ou ao menos tentamos para que isso ocorra, já que intuição e vontade de escrever não aparecem todo dia. Pois bem, voltemos então a obra polaca e diagnosticamos de cara um conflito entre mãe e filha adolescente. Mãe esta ainda nova e caixa de um mercado. A filha vai encher a mãe no trabalho querendo comprar algumas besteiras por estar enojada de comida...

IRRLA3UFER

IRRLA3UFER , dirigido e roteirizado por Moritz Draheim , Alemanha, 2015, sendo sua estreia na América Latina. Tinha um puta trauma quando meu pai falava que era da "turma do mau" . Garoto e católico com primeira comunhão e tudo, não entendia quando ele falava pra mim isso com o riso nas bochechas cobertas por sua barba. Já minha mãe dizia, todo dia, que era da "turma do bem". Aos oito anos de idade criei uma imagem de certo monstro por parte do meu pai por ele ser da turma do mau. Na adolescência meus pais se separaram e fiquei mais distante ainda dele, de modo que ele já morreu e não conseguimos nos aproximar da forma que poderíamos, ou não poderíamos mesmo, vai saber, fato é que hoje sinto uma puta falta dele e devo ser mais da turma do mau do que a do bem. Metáforas a parte esse filme fez indagar tais questões da minha formação como humano; bom e mau, o que na real todos somos: complexos por natureza. A minoria sabe disso, mas somos as duas coisas ; podemos fazer...

A Última Terra ( La Ultima Tiera )

A Última Terra ( La Ultima Tiera ) , do excelente e sensível Pablo Lamar, Holanda/Paraguai, 2016. Este foi o único filme em que não escutei diálogo algum do inicio ao fim no V Olhar de Cinema em Curitiba, e talvez por isso, tenha sido um dos melhores e aplaudido de pé pelos transeuntes críticos de cinema de todas partes do Brasil e América Latina, e a população curitibana em uma sala lotada. O máximo que tem-se de comunicação verbal aparece logo nos primeiros minutos do longa metragem,e tampouco também não são vozes, mas sim grunhidos de dor e respirações ofuscadas pela falta de pouca vida que lhe ainda lhe restava por pouco espaço de tempo. Ou seja: de quem estava indo dessa pra melhor (ou pior, vai saber do principal mistério nosso: o outro lado). A personagem em fase de ir-se é a uma mulher idosa que vive cercada de um mato selvagem e silencioso em uma selva paraguaia com seu esposo, também homem de idade avançada, na casa dos seus setenta e vai lá quantos. Porém tal senhor é de uma...

O Estranho Caso de Ezequiel

O Estranho Caso de Ezequiel , de Guto Parente, Brasil, 2016. Com zero grau de temperatura e cinquenta na cabeça serei tinhoso em resenhar esse filme, pois até agora não vi nenhum filho de kenga especializado a cometer tal ação. De inicio abre-se o filme com um versículo bíblico de Ezequiel. Na vida real, ou melhor, na trama o Ezequiel é um homem que passa por um momento difícil com a perda da sua esposa, alias bota dificil nisso. Ele vê vozes, fuma maconha, se recolhe em sua casa para compreender a ida de sua amada para o além. No máximo que Ezequiel faz é comprar frutas no mercado ao lado para acalmar sua mente, mas isso não adianta. Ezequiel, então, desiste de esquecer sua esposa e busca ela da sua maneira, onde ela estivesse. Se ela não pode estar ali, ele primeiro faz com que ela estivesse, ou acreditasse que estaria, e após, ele vai onde ela estaria; lugar esse que não fica nítido, mas ele vai lá e fica. Lógico que, alias se existe uma coisa no filme que não existe é a lógica, mas...

Ator Martinez

Ator Martinez , de Nathan Silver, EUA, 2015.O diretor é figura carimbada no Olhar de Cinema. Desta vez ele vem pra desmistificar o limite entre a ficção e o documentário. A obra não deixa de ter sua marca registrada: a tragicomédia, ou seja, por situações tão absurdas que surgem, o humor acaba dando as graças para situações tão estapafúrdias. O protagonista é um sujeito que conserta computadores e resolve chamar dois cineastas para fazer um filme seu. Todavia quando os diretores pedem para que ele se comporte como um ator, como chorar, por exemplo, ele não consegue. Ano passado Nathan Silver teve uma amostra só de seus filmes no Olhar de Cinema, mas no deste ano só rolou esse, deu para matar as saudades do diretor criativo que ele é.