IRRLA3UFER
IRRLA3UFER,
dirigido e roteirizado por Moritz Draheim , Alemanha, 2015, Tinha um baita
trauma quando meu pai falava que era da "turma do mau". Garoto
católico, com direito a primeira comunhão e tudo o mais, não entendia quando
ele falava para mim isso com um sorriso enigmático entre as bochechas cobertas
por sua barba longa. Já minha mãe dizia, todo dia, que era da "turma do
bem". Aos oito anos de idade criei uma imagem de um certo monstro por
parte do meu pai por ele ser da turma do mau. Na adolescência meus pais se
separaram e fiquei mais distante ainda dele, de modo que ele já morreu e não
conseguimos nos aproximar-nos da forma que poderíamos, ou não poderíamos mesmo,
vai saber essas coisas de carma. Fato é que hoje sinto uma enorme falta sua após sete anos de sua ida ao
além. Dizem que sete anos é um sinal de fechamento de algum ciclo, e eu meio
que sinto isso, só não descobrir qual ciclo é. Ainda sobre o tema paternidade,
hoje sei que sou da turma do mau, isto é, mais parecido com meu saudoso pai do
que da minha mãe. Pois bem, metáforas a parte esse filme fez-me indagar estas
questões da minha formação como humano, assim como pode instigar a você que lê,
afinal dentro de nós existem espaços para vários nossos lados “bons” e “maus”,
e provavelmente os dois juntos atracando-se entre si a todo instante. O que na
real sabemos é somos complexos por natureza, e isso a maioria não sabe,
infelizmente. A todo o momento fazemos, ou pensamos, coisas extraordinárias e ordinárias, alias às
pessoas são interessantes por isso mesmo: por serem "Mané" e
"Pelé", no melhor sentido das comparações , até porque prefiro o
Garrincha. Trocadilhos “propositórios” à parte, adentramos no estupendo, forte
e visceral filme alemão, que tem como personagem principal um adolescente que
trabalhava em um Lava-Jato( não esse da policia federal, mas um verdadeiro), e
como antagonista tínhamos um vulgo amigo seu, em contrapartida. Ao primeiro
olhar classificaríamos tais personagens como o primeiro o "do bem" e
o segundo, o antagonista, como um super gordo "do mau", porém como
carregamos conosco essas naturezas opostas, o filme dribla-nos também, de modo
que não conseguimos mais ver quem é o vilão e quem é o mocinho na obra fílmica.
Entra, então, na trama uma terceira personagem: uma garota viciada em heroína e
namorada do antagonista gordão e perverso, e a moça muda toda a lógica dos
destinos de quem é mau e quem é bom. Sim, existe por parte da personalidade do
antagonista um lado sádico, escroto, e talvez por isso, ele torne-se até mais
interessante do que o vulgo trabalhador, o protagonista lavador de carros
fedorentos, que todos os dias é obrigado a limpar espermatozoides perdidos em
bancos ainda com a energia e cheiro de uma transa rápida e recente. Talvez por
isso, ou seja, pelo seu lavoro é que nosso mocinho fica tão a mercê psicologicamente
da atuação do antagonista, este doando, inteligentemente, seu ombro gordo para
colocar à sofrida cabeça do seu amigo após mais um dia perverso de carros lavados. Filme
de produção independente muito rico em mínimos detalhes, estes que são os
responsáveis a fazermos pensar e refletir à bessa: ótima pedida pra fugir dos
filmes clichês e colocar os nossos “ticos e tecos” para funcionarem.
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