Big Jato

Big Jato, de Cláudio Assis, Brasil, 2016. Os mais céticos poderiam dizer que “poesia de cú é rola”, mas não é bem por aí e o filme mostra bem o porquê. A obra é uma adaptação do livro homônimo do jornalista Chico Sá. Posso até me adiantar e afirmar que o protagonismo desta obra não é um só, mas sim uma família. O ator paulistano talentoso Matheus Nachtergaele faz dois papeis antagônicos e profundos que dão o tom sarcástico que a trama necessita. Ele se vira no pai de família que é dono de alguns filhos ( três ), e tem um caminhão que limpa a fossa das casas da cidade de Peixe da Pedra que ainda não tinham um vaso sanitário, a sua vasta maioria no sertão nordestino. Caminhão esse que tem o nome do filme: o super big Jato que vem para limpar as literais cagadas dos moradores do simpático nome do município de Peixe das Pedra. E ainda o Matheus faz o papel do irmão desse cara limpador das fossas alheias: um radialista anárquico que encantava e encorajava as pessoas que queriam sair do lugar comum e consequentemente de Peixe de Pedra; um fervoroso pastor inverso, no melhor sentido da comparação. A trama se desenvolve nestes dois personagens ambíguos que defendem seus ideais até as últimas consequências com somente um ponto em comum entre ambos: a paixão pela música e principalmente pelos Beatles. O trunfo desta narrativa audiovisual se configura quando adentramos no modo de como estes dois personagens pensam e consequentemente fazem pensar os outros personagens do filme, que são: a esposa do “big jato” ( uma sujeita que tem ataques de fúria ), o filho caçula que quer ser poeta “ o merdinha ou big jatinho”, o primogênito que quer ser matemático, e por fim um afeminado que fica fazendo a unha da mãe quase que o filme inteiro. Em suma temos dois aspectos que são fundamentais na obra, um é positivo e o outro negativo. O aspecto positivo do filme do Cláudio é que consegue misturar, sem moderações, poesia e cinema, ou adicionar poesia em seu filme através de um personagem que é o maluco de praça da cidade ( Jard Macalé ), dando um tom em sua obra que lembra em certos momentos, Os Incompreendidos do mito francês François Truffaut. O aspecto negativo do filme está na sua não clareza do roteiro. Tudo bem que a poesia transcende o que é correto ou não, mas acaba sendo fundamental para quem assiste uma ordem a seguir na narrativa para que o filme ficasse mais nítido, com um começo, meio e fim mais “dados”, escrevemos assim. Todavia não esqueçamos que o filme foi o principal vencedor do último festival de Brasília, e tendo um roteiro “sujo” ou não, com certeza é a melhor opção dos filmes que estão em cartaz.

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