A Última Terra ( La Ultima Tiera )

A Última Terra ( La Ultima Tiera ), do excelente e sensível Pablo Lamar, Holanda/Paraguai, 2016. Este foi o único filme em que não escutei diálogo algum do inicio ao fim no V Olhar de Cinema em Curitiba, e talvez por isso, tenha sido um dos melhores e aplaudido de pé pelos transeuntes críticos de cinema de todas partes do Brasil e América Latina, e a população curitibana em uma sala lotada. O máximo que tem-se de comunicação verbal aparece logo nos primeiros minutos do longa metragem,e tampouco também não são vozes, mas sim grunhidos de dor e respirações ofuscadas pela falta de pouca vida que lhe ainda lhe restava por pouco espaço de tempo. Ou seja: de quem estava indo dessa pra melhor (ou pior, vai saber do principal mistério nosso: o outro lado). A personagem em fase de ir-se é a uma mulher idosa que vive cercada de um mato selvagem e silencioso em uma selva paraguaia com seu esposo, também homem de idade avançada, na casa dos seus setenta e vai lá quantos. Porém tal senhor é de uma vitalidade que só poderia , alias pode, ser explicável por viver totalmente isolados em uma modesta casa de barro e piaçava que o mesmo fez, a parecer, já que os únicos atores do filme é este casal. O inicio chega até a ser angustiante, pois já encontramos a senhora já em seus últimos respiros, e seu esposo tentando, ou fazendo o que pode ( já que percebemos em sua face que já saberia que ela iria a qualquer instante, segundo) para meio que dizer sem palavras a esposa que poderia ir e não precisaria sentir dor, porque a hora dele tinha chegado. mesmo assim os primeiros quinze a vinte minutos do filme são desesperadores pela atuação da atriz em encenar suas dores físicas e a sua consciência de que nada poderia fazer para continuar com seu amado, já que ela saberia que seria deveras dificil a vida pra ele sem ela; a única pessoa que tinha ao redor de uma espécie de uma selva inabitável. Mas por que o filme é do caralho? Porque o silêncio ruidoso de setenta e poucos minutos de projeção são barulhentos pra caralho; a situação em si não carecia de vozes, apenas de olhares curiosos de que como seria tal situação do casal de anárquicos que resolvera romper com os padrões da sociedade e ligar o foda-se para a convivência social com outros, até com animais, inclusive. A segunda parte da história começa quando a esposa para de grunhir de dor e então morre( resistente ela, escreva-se de passagem). O marido agora cava raivosamente uma cova para enterrá-la ao redor do matagal da sua casa; cava raivosamente porque, evidente, não aceita ainda a "ida" ao além da sua companheira. Para não pirar sozinho no mato o homem tenta amenizar sua mente e depressão tomando banho de cachoeiras e fazendo fogueiras toda santa noite; e é no fogo que ele encontra a forma em se sentir mais aliviado ou menos tresloucado por agora estar sozinho na vida. Mete fogo tanto no corpo já inchado da esposa e também na casa onde moraram e construiram juntos. Esta foi a forma que ele tocar a sua vida sem ela: não ter lugares para jogar flores todos os dias junto ao túmulo, pois como a casa, o corpo da sua esposa agora era só cinzas também. Um filmaço que não se disse nenhuma palavra , pois tudo já se encontrava escancarado em suas imagens e na ousadia do diretor em colocar suas câmeras em lugares inusitados e com um resultado surpreendente. Se não fosse o filme que vi ontem chamado O Estranho Caso de Ezequiel, torceria para este fabuloso e fantástico filme que fica por muito tempo em nossa cabeça, e nos ensina que o mais importante não é falar, mas sim sentir.

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