Ruim É Ter Que Trabalhar

Ruim É Ter Que Trabalhar, de Lincoln Péricles, Brasil, 2014. Assisti ao filme em setembro do ano passado e só quis escrever dele agora, mas por que isto aconteceu? Não é o que se imagina. Ou seja: De ter tido preguiça de escrever de lá pra cá ou pelo curta ser ruim, e então a vontade não tinha batido. Ledo e Ivo engano quem apostou suas fichas nessas respostas. A real é que o curta é tão gigantesco que somente hoje tive a mensuração do que o filme teve em minha vida de cinéfilo. Mas por que isto aconteceu? Porque o curta metragem fala do valor do trabalho, e mais: Me fez a pensar que trabalho é para ser valorizado e remunerado dignamente. Vejam só os artistas que você encontra no metrô e dá uma moeda quando o está tocando seu instrumento. No fim do dia ele consegue uns cinquenta reais para dormir ao relento, pois o se come ou se paga o pensionato; isto seria justo? Acho que não. Ruim É Ter Que Trabalhar nos faz refletirmos se nossos trabalhos estão nos remunerando como deveriam, e mais; o curta nos indaga se de fato o trabalho cansa ou não. A resposta que hoje tenho é que ele cansa. Também não dá só pra fazer o quer e gosta hoje, senão ficaremos como os músicos sem teto do metrô, mas e aí, qual seria a melhor jogada: Entrar nesta porra de sistema escroto, e se tornar um também, ou administrá-lo da sua maneira. Ou seja: Dizer que tá dentro e nunca está. O pior que o sacana do sistema tem um detector de mentiras que dedura estes espertos que desejam passar por ele despercebido. O que fazer então? É encarar o bicho mesmo, não tem outra saída já que o “jeitinho” tem prazo de validade. Mas como entrar no capitalismo e não ser um escroto; isto não seria uma ambivalência? Ontem a noite fui dar um rolê e acabei tomando uma cerveja com um Hippie; conversávamos sobre o tema "trabalho", e ele fora irredutível , gritando que era impossível estar do lado do trabalho. Ou seja: Para ele, Se está dentro dele, está contaminado; vendeu sua alma ao Diabo. Quis argumentar com o hippie, que me vendeu uma linda pulseira de couro, dizendo que ele pegasse leve com o sistema, que nem tudo é tão ruim assim, que ele estava sendo muito radical, que sempre existia brechas, etc. Mas ele fora irredutível, e no último gole de cerveja , cuspiu um pouco da cerveja em minha direção e praguejou: “ Rei, eu não ligo pra dinheiro”; retruquei na mesma hora: Mas você quis a grana da pulseira né?; ele triplicou na mesma hora também: “ Porra Rei, tô pagando um aluguel ali”. Após a conversa com o amigo hippie Manoel, de 44 anos, tive a certeza de que o filme a ser resenhado seria aquele que vi no festival de cinema de Cachoeira,no recôncavo baiano, ano passado, o CachoeiraDoc. Tendo a nítida certeza de que aquela conversa com o Manoel não teria mais pra onde ir, improvisei uma despedida com a influencia da música "Manoel" do Ed Motta, e disparei uma saída a francesa falando: Ok Manoel, vou ali no céu e já volto. Agora as peças de setembro se encaixam, e trabalhar de fato cansa pra caralho. O curta ,de nove minutos de duração apenas, aborda as reformas e os transtornos que o bairro de Itaquera, em São Paulo, teve para construir a Arena Corinthians para a jogo de inauguração da Copa do mundo em 2014, mas somente após a conversa com o amigo Manoel entendi o porquê daquele curta metragem ter mexido tanto comigo naquela época, sob o olhar atento do seu diretor que era, e ainda é morador do periférico bairro de São Paulo.

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