Poesia 2

Nas pedras das calçadas, podia-se fritar um ovo se quiséssemos dada a onipotência do sol baiano em qualquer estação do ano; Nelas ainda enxergo, sem auxilio de lupa, buracos entre um paralelepípedo e outro quando subo a ladeira do Pêlo aos meus testosterônicos dezessete anos para curtir a terça da benção do Olodum. Entre as árvores e plantas, passo pelo chamado paraíso; Um lugar que na entrada tem asfalto e na saída tem uma praia repleta de ondas perfeitas. O paraíso também tinha suas “pegadinhas”, como um crackeiro preguiçoso que esperava para roubar sua prancha, ou somente maconheiros mauricinhos de mal com a vida que ficavam por meter-nos medo devido aos seus tamanhos quando perpassava-nos no nostálgico paraíso rodeado de plantas, árvores e um cheiro incessante de maconha nativa. Nos muros, Pichações que por vezes se faziam criativas ou anárquicas, e por outras eram porcas letras jogadas aos muros esbranquiçados recém-pintados somente para marcação territorial. Um sentimento de barreira nos maiores por ser os das meninas mais desejadas do bairro. Podiam ser apelidados de “Quartéis do Saddan”, ou o muro das “dadas”; Tinha para todos os gostos. No caminho do vento, barulhos ensurdecedores de alísios deste tipo em grandes dunas para ver se dava onda ou não naquele dia. Zunidos ao pé do ouvido quando dentro do mar avistava-se quase no meio do oceano a onda chamada por arrastão; Fazíamos o que podíamos, mas ela sempre nos ganhava e nos afogava com a famosa vaca. Nos postes silenciosos, lugar propício para um amasso em um clima frio em um desses 403 interiores da Bahia. Tilintar dos órgãos íntimos se acenderem ao menor roçar de coxas das moças que se “matavam”para ter um affair com um moço da capital pela promessa de tirá-las daquela pobreza de lugar. Nas varandas dos vizinhos, um som de cadeira se balançando sozinha; um Senhor reclamando com seu curió na gaiola porque este não cantava como dantes. Um arrastar de chinelos com o peso da idade. Um grito de uma criança fora de si; O balanço de uma rede em que seus cordões, de tão usados, pareciam que iriam cair a qualquer momento, aflição! Nos Telhados, gatos desastrados fazendo sexo e urando como leões selvagens. Chuvas torrenciais batendo em telhas sem proteção alguma. Um misto de sentimento de liberdade, pela falta de dinheiro, com a sensação de estar livre das amarras dos acordos comerciais e sociais. Em meu corpo, uma inquietação de que só uma criança pode ter; Uma sede literal de água a todo instante; Uma energia inesgotável e um corpo que insistia em não engordar por mais que tanto comesse.

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