Madrugada

Chego em casa as três da manhã e o cão que sempre latia não estava mais latindo. Quando não latia quando aparecia logo abanava o rabo e falava em tom cachorêz : “Entre papai, estava lhe esperando “. O ditado popular que diz que o cachorro é o melhor amigo do homem é de fato verdadeiro, hoje não resta duvida. Já não mais o que escrever, ou melhor, não sei mais como transmitir a palavra perda de uma forma gramática. Talvez este sentimento seja agramatical mesmo. De verdade depois que deixamos Leo partir para não ficar mais se estrebuchando de dor devido ao seu tumor, mas nesta exata madrugada é o momento que a ficha começa a cair: que não terá mais nenhum cão para abanar o rabo quando chegar em casa a hora que for. A dor, o sofrimento deve ser parecido como a perda de um filho, embora ainda não tivesse nenhum, entretanto meu Leo demasiadamente humano não deixava pensar nem na hipótese de querer ter um filho, tamanho o seu grau de preenchimento que este adotava em mim. Todavia agora sem ele ao chegar em casa vejo que a solidão chegou de sua forma categórica e enfática classificada como totalmente, mas não tenho medo dela. Antes sentir esta dor ao invés que ficar vendo ele se estilhaçar de martírio pela varanda. Parei de dormir durante uma semana para assistir aos últimos dias do meu amado cão demasiadamente humano e sensível. Talvez por isso, resolvi dar cabo ao nosso sofrimento e em uma decisão que só um pai pode tomar dei cabo aquele martírio de um puta de um cachorro que não merecia sentir a dor que estava passando. Porra, a saudade é imensa a esta hora da madrugada, mas acho que dormirei um pouco mais em paz, alias esperarei que consiga dormir depois deste dia tão intenso e de decisões que só os que amam compreendem. A ficha ainda não caiu, foi apenas a primeira madrugada sem meu melhor amigo e companheiro, o tempo sempre foi rei e majestade para resolver essas pendengas humanas, assim deixá-lo-ei resolver este entrevero.