Só Deus Perdoa

Só Deus Perdoa, dirigido por Nicolas Winding Refn, França, EUA, Dinamarca, 2013. O titulo é forte assim como é o filme. Esta produção foi selecionada para a competitiva de longas-metragens no festival de Cannes em 2013, e não por acaso. O acaso, esse sim, pode abrir nossa resenha. Podemos escrever que fora o acaso com o destino juntos que determinou os caminhos percorridos por seus personagens dessa humana, demasiada humana, obra audiovisual. O filme é ambientando numa violenta Bangkok dos dias atuais, capital da Tailândia, e falado em inglês e tailandês. O submundo das drogas é tema principal no filme, e este se submete as consequências e insanidades do tráfico internacional da cocaína e heroína, liderados por dois norte-americanos que tinham uma academia de boxe tailandês como fachada para esconder seus negócios ilícitos. A coisa pega de fato quando o americano mais velho acaba estuprando e matando uma garota de programa, não sabendo ele que estaria comprando uma briga com um policial "ético" e psicopata, e não necessariamente nessa ordem. O polícia era um personagem a parte no tenso filme, trazendo uma certa suavidade ao clima hostil da obra, apesar dele ser o principal assassino do filme. Não sei por que cargas d’água o tal policia quer saber quem matou uma garota de dezesseis anos ( seria porque ele tinha uma filha pequena? Acho que sim ), e matar o "maledito" sem coração que cometeste o crime grotesco e aparentemente sem maiores razões para o sucedido se transforma em uma missão para o agente da lei tailandês que tinha o inusitado hábito de cantar karaokê nas mais estranhas situações, como após uma briga ou assasinato. Fato é que o policial caça o norte-americano e o mata sem compaixão com uma espada de samurai que parece que teria tirado do próprio ânus, pois surge de suas costas, que aparentemente não tinha nada. Portanto a partir da morte do traficante americano, entra em cena sua bela mãe que vem dos EUA para vingar a morte do seu primogênito e matar o “macaco amarelo” que teve a audácia em fazer isso, já que seu irmão mais novo, interpretado pelo carismático ator Ryam Gosling ( mesmo ator que fez o remake de Taxi Driver ), achava que o irmão teve o que merecia por estuprar e depois matar uma garota indefesa de dezesseis anos que se prostituía para sustentar seus irmãos e pai, este último que caiu na afiada espada samurai do policial psicopata, antes de ser almejado pela turma do norte-americano que até o momento pensava que tinha sido ele, o pai da menina assassinada, que tinha matado o filho primogênito da coroa enxuta e cruel. Os acertos tinham de serem feitos, ou seja, algum lado teria que se dar mal; Ou o policial atípico ,que em muitas cenas achei que tratava-se de um policial miliciano do tráfico,mas do que um profissional ético como ele afirmara antes de cortar um dos braços do pai da moça morta, dando-o uma lição de moral e perguntando como aquele pai filho de uma putana deixava uma filha trabalhar como garota de programa assim tão nova. O tal policial era mesmo radical e foi de um por um exterminando com sua espada samurai todos os caras da quadrilha oposta até chegar ao chefe, o irmão que ainda se encontrava vivo e sua maluca, porém bela mãe. O filme em inúmeras cenas , para não dizer na maioria delas, apesar de contar uma trama de suspense densa, tem um “ar noir”, blasé e em alguns momentos o silêncio é o maior dialogo ou trunfo do filme. Nítido fica como esses "silêncios falavam" bem mais que quaisquer palavras ou tiros, principalmente pelo protagonista que mais uma vez dá um show de interpretação fazendo o papel de traficante que fugiu dos EUA para a Tailândia por ter matado um policial. Este silêncio do protagonista, de tão profundo que era, foi ironicamente a parte comunicativa mais eficaz do filme, pois é no “não falar” que dizemos as coisas e sentimento guardados mais importantes dentro de nós, e estes silêncios geralmente são, ou foi no caso do protagonista, de ódio, rancor,ressentimento, "evolução" passividade, humanidade e cumplicidade. Um filme que não deveria ser deixado de conferir, pois coisas ou valores ditos como éticos podem ser o contrário: antiéticos e covardes. Um filme duro de ver a ainda mais de digeri-lo, porém na medida que conseguimos fazer isto, ou seja, digeri-lo, temos o trunfo do discernimento adequado para perceber que de fato vivemos em um mundo “cão”, e por isso não é medida das mais sensatas e inteligentes esperar pela misericórdia e bondade das pessoas, por estas serem sugadas pelos valores desse nosso, infelizmente,atual “mundo caótico -Cão”; Em que literalmente, como o próprio título do filme explicita: Só Deus perdoa, e olha lá se perdoa mesmo, somente “ partindo dessa para melhor” para termos certeza disso. Filmaço profundo e visceral que nos faz mergulharmos de cabeça na psique do bicho-homem que nos transformamos.

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