Poesia

Poesia, de Lee Chang-Dong, Coréia do Sul, 2011. Continuo com a tese de que os melhores filmes saem dos lugares menos inesperados, pois não existe a tal cultura de fazer filmes bons e bem remunerados, aí o que os caras fazem? Usam a criatividade e saí coisa de prima. Poesia é uma dessas fitas que ficam ecoando nossas almas por um bom tempo. Trata-se de uma lindíssima estória cotidiana de uma mulher que vai perdendo sua memória e por isso se matricula em um curso de poesia para entender o que está acontecendo com seus lapsos de memória ainda existentes antes do Alzheimer chegar e tomar conta, e paralelo a esse problema de saúde, o seu neto que ela cria se vê dentro de um suposto estupro e assassinato de uma colega de escola. Uma película realmente tocante. Quando o filme é muito bom por vezes letras serão sempre poucas ou inexpressivas para explanar tamanho sentimento que tais fitas provocam. Se puder ser tratado como uma referência, Poesia está na seleção oficial do festival de Veneza de 2011: Um dos melhores e poucos festivais de cinema ainda em atividade que não se deixa influenciar literal ou totalmente pela mega indústria cinematográfica, permitindo assim que filmes de artes ainda tenham “seu lugar ao sol”.Para uma explanação maior ou mais completa da obra-prima vista, quero expor o que sua protagonista (Yoon Jung-hee em estupenda atuação ) nas “entrecenas” do filme deixa escancarar com seus diálogos e indagações existenciais, pois para a protagonista a poesia é pura e simplesmente o ápice racional e irracional que o ser humano pode chegar e ultrapassar seus limites.Para ela, é na poesia que podemos exponenciar nossos sentimentos guardados, pois tais sentimentos , por vezes e por fatores externos ficam inviáveis de nos desnudarmos e expormos tudo que pensamos por termos uma sociedade ainda provinciana no sentido de enxergar e valorar pensamentos que vão de encontro contrário ao que a sociedade estabelece como correto. Para nossa protagonista é exatamente com a poesia que percebemos que dor e amor são sentimentos que andam juntos, assim como doença e cura. Segundo a atriz, melhor é se deixar perder por linhas tortas do que sempre seguir as mesmas linhas retas estabelecidas por sei lá quem ou quando. Se ser doente é “viajar” em livros que poucos lêem ou gostam, ela prefere morrer disso ao invés de ser curada. A coisa mais valiosa que o ser humano tem é o seu poder de escolha, a sua liberdade da trilhar seus caminhos. Ser livre, para a protagonista, é mais complexo do que podemos imaginar: Não se restringe apenas em ter ou não religião, gostar ou não dos seus parentes, ter ou não amigos de verdade. Ainda segundo ela a liberdade é um estado de espírito e de conquista; e a poesia, de certa maneira, é um oxigênio que pegamos para sermos a cada dia mais livres das convenções morais a anacrônicas que nós mesmos criamos e obedecemos. Não é que a protagonista queira ser uma “Black Block” ou anarquista do século XXI, mas ela não abre mão de ser uma errante e por consequência dessa escolha : um ser pensante. Belo filme, recomendadíssimo.

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