Menos que nada

Menos que nada, do sempre pesado diretor gaúcho Carlos Gerbase, Brasil, 2012; Mostra de forma visceral e sem redundâncias a degradação mental de um jovem homem. A trama gira em torno do tratamento de um doente mental internado há dez anos num hospital psiquiátrico, onde fora esquecido por sua família, pelos pouquíssimos amigos que tinha e principalmente pela nossa hipócrita sociedade. “Menos que Nada” se inicia com um viés filosófico sobre a vida e a morte, porém rapidamente somos fisgados em um tipo de quebra-cabeça. Através de entrevistas realizadas por uma médica (Branca Messina), a trama remonta as últimas semanas de vida lúcida de Dante ( o doente mental a ser estudado ), onde tentamos descobrir como o protagonista parou naquele local e situação. O filme tem como base o conto “O Diário de Redegonda”, do médico e escritor austríaco Arhur Schnitzler (1862-1931). O autor nos mostra a história de um escriturário que se apaixona perdida e “edipidamente” pela esposa de um militar e, sem nenhuma possibilidade real de aproximar-se dela, constrói um universo imaginário para viver seu caso de amor de mão única. Dante, que no conto original era um escriturário, é transformado na fita gaúcha em um auxiliar de arqueólogo de pouca ambição, quase um burocrata, que trabalhava com a liberação de obras, redigindo e assinando alvarás para grandes empreiteiras explorarem o nosso solo “Brasilis”, quase a mesma coisa que Portugal fazia com o Brasil na época da sua vulga descoberta. Por ser tímido Dante vive com o pai em um pequeno apartamento e praticamente não tem vida social. Já a mulher por quem se apaixona, que no conto é a esposa de um militar, no filme é uma paleontóloga carioca de destaque no meio universitário na área de pesquisas de fósseis. Dante, com toda sua sensibilidade e carência apaixona-se por esta bela mulher, para ele inatingível, e a partir daí sua vida muda literalmente. E para pior, escreva-se de passagem, se é que isso é possível, pois sua vida já era bastante sem graça, porém ainda tinha certo juízo mental e o perde quando fora enganado por uma vulga vida romântica com a paleontóloga nos EUA com a sua descoberta de um importante fóssil no interior do Rio Grande do Sul. Um filme denso de personagens ( não de imagens ou quaisquer outras enrolações )que envolve caráter, ética, ingenuidade, e tudo desemboca no estado mental do protagonista feito com extrema maestria pelo ator Felipe Kannenberg, pois para fazer um doente mental como ele fez, é definitivamente para poucos atores. O diretor Carlos Gerbase que em regra não “puxa o freio” nos filmes existenciais e viscerais que produz, mas esse superou todos os que já vi dele: Um verdadeiro soco no estômago e sem direito a respirar por nenhum segundo para recuperar o fôlego tamanho o caos mental em que cria seu personagem central.

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