Pra lá do mundo

Pra lá do mundo, dirigido e roteirizado por Roberto Studart, Brasil, 2013. Foi uma bela surpresa este documentário no meio desse mês chuvoso de Salvador. Não por acaso quando estive por lá me senti tão mal recebido, e agora conferindo o documentário percebo o porquê e dou total razão a eles por terem me tratado como um capitalista sem escrúpulos ou simplesmente como um mero capitalista. O documentário tem a sensibilidade de traçar a trajetória da criação do Vale do Capão, localizado no meio do estado da Bahia, desde os seus primeiros anos até os atuais mostrando suas transformações como, por exemplo, a chegada da luz elétrica na vila ( visto que o Capão faz parte do município de Palmeiras e por isso e outros motivos tem a idéia de quem pisa por lá de ser uma “terra do Oz”, onde pode colocar-se contra o sistema capitalista por não ter governantes ). A fita aprofunda-se na questão do turismo na vila, com uns mostrando-se a favor por dar visibilidade turística e econômica aos nativos, e outros são radicalmente contra o turismo, a chegada da luz elétrica e toda e qualquer tipo de civilização capitalista que cedo ou tarde acabaria por “cobrar” tais luxos como, por exemplo, um simples vaso sanitário, este que quando chegara à vila causara grande alvoroço aos nativos por sempre fazerem suas necessidades no mato ou como diziam: “ soltarem o barro”, mas agora nos vasos de forma mais higiênica. Outra questão abordada no bom documentário fora a mistura de etnias e culturas com o povoado da vila se casando com gente de tudo que é tipo de país, inclusive até um cidadão Curdo ou do Curdiquistão, como mencionara com bom humor um nativo mais experiente da vila. Os incêndios, por a vila ser localizada num parque nacional protegido por lei federal, também foi centro de discussões entre os moradores da vila ( nativos e estrangeiros residentes de todas as partes do mundo ). Algumas teorias foram levantadas a respeito do tema com interesses políticos embutidos para supostos e suspeitos atos criminosos. Todavia sempre o povo arregaçava suas mangas a apagavam os fogos, e que por vezes, davam suas próprias vidas para isso, como foi o caso de um cidadão português que morreu queimado tentando apagar o fogaréu. Havia e há ainda uma discussão sobre a criação de uma moeda verde para a vila, onde todo turista seria obrigado a colaborar logo quando adentrasse no “paraíso”. Um comentário de uma soteropolitana que trocou Salvador pelo Capão há dez anos me chamou uma atenção especial, pois ela dizia que quem adentrava no vale sentia de imediato uma energia ou vibe especial, tipo como cortando suas “zicas” capitalistas, porém quando esse povo ia embora depois das festas e festivais, os moradores adoeciam por se sentirem sugados enérgica e “almamente” dos turistas festeiros que procuravam se reconectar com a natureza saindo de lá recarregados a custo de outros ficarem descarregados: é a famosa lei humana “ tome de lá e não receba de cá”, pois nós somos por natureza egoístas. O que deu pra ter certeza é que o Vale do Capão é de fato um lugar especial e que vale ser visitado, mas vá sem muito pudor material para que a vibe seja mais legal.

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